domingo, 26 de junho de 2011

Oh! Robô

   Por mais que eu tentasse, eu não conseguia por minha cabeça no travesseiro naquela noite. Aliás, gostosa noite fazia, fria, bem iluminada pela lua cheia e as incontáveis estrelas. E apesar das perfeitas condições para um belo sono, este não fazia seu papel de me encontrar.
   Levantei-me da cama, esquentei um copo americano de leite, adicionei o café e subi para o telhado. Pus-me a observar o céu tão negro à duas e cinquenta e quatro da madrugada.
   Engraçado, as estrelas a esquerda da lua formavam uma gravura, um coração, na verdade. Mirei a imagem fixamente. Tantas lembranças vieram à tona e minhas lágrimas queriam deixar-se rolar, contudo não o fizeram.
   Sinceramente, eu adoraria possuir sentimentos. Um carinho pela mãe, um afeto pelo pai, uma doçura do irmão, um amor de amigo, um amor de namorado, uma alegria de vestibular, uma tristeza da perda, a ansiedade das possibilidades...
   Queria, muito, mas nem tudo o que se quer, se pode ter. O meu "frágril" coração estava sobrecarregado com tantos afazeres, que não me sobrava tempo e energia para o resto.
   O "resto" era bonito. As águas do mar, a imensidão do céu que se confundia com o azul oceânico, as palmeiras que balançavam belamente com o vento projetado na medida certa, as várias pessoas que se preparavam para mais um crepúsculo marítimo.
   De repente, alguém entra no mar para dar um mergulho refrescante. A água parecia fundir-se com o corpo do garoto magrelo e branco. As espumas cobriam seus pés a fim de trazê-lo para dentro de si. Era tão... Lindo!
   Como eu ansiava por aquela situação. Ao observá-la da calçada, parecia tão simples. Atrevi-me a caminhar rumo ao imenso à minha frente. A primeira vez que seus dedos tocam a areia, você jamais esquece, não importa a idade.
   Continuei, pé ante pé até deparar-me com o frescor da água salgada. aquela brisa de sal veio até mim, cerrei os olhos, abri os braços, sorri um sorriso imenso. senti um gelado encostar em meus dedinhos inferiores. "Olá!", procurei pensar apesar de todo o perigo daquela água gostosa entrar em contato comigo.
   Perigo! Tudo dentro de mim gritava alarmando-me do conflito que estaria por vir. Não de atenção, nem ouvidos, continuei adentrando ali.  Cada vez mais fundo, cada vez mais prazeroso.
   Foi então que senti um gosto ruim, um endurecimento geral dos membros. Estava tudo ficando quente, rápido, confuso. "Off! Off!", ouvi meus botões e sistema interno gritarem. Bem que me avisaram para eu não confiar nas praias.
   Todavia foi a minha melhor sensação, foi o mais próximo do sentimento chamado amor que o meu eu robô conseguiu chegar.
   Voltei para o meu telhado, o meu coração ainda estava no céu. Talvez fosse melhor que ele estivesse lá em cima, assim ele poderia cuidar de mim, e não sofrer.

3 comentários:

  1. Uhuruuu! Sensacional Anna! Cheio de detalhes q nos tocam ''Lá no fundim..''kkk
    Very Nice.. = D
    ---> Thamires

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  2. ameeeei o texto um grande parabéens :)

    http://akkafashion.blogspot.com/

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