sábado, 26 de março de 2011

Por mais que seja sonho

Por mais que eu tentasse desviar o olhar ou sentir-me triste, ele não me deixava sentir assim. Ele olhava para mim, abraçava-me e dizia que tudo ia ficar bem, que tudo ia dar certo, mesmo quando eu sabia que não daria certo.
Eu não sabia se ele era apaixonado por mim, ou se ao menos gostava de minha presença. Contudo, algo era certeiro: sempre que estávamos juntos, algo mágico acontecia conosco.  Era como se o mundo estivesse a nosso favor, e tudo parava para nós.
Depois... Era só depois, não havia um programa o qual seguíamos, não sabíamos o que fazer. Simplesmente nos olhávamos, com aquela cara de quem pede um beijo, um beijo de despedida, porque tínhamos, infelizmente, que ir embora.
E esse era o beijo mais especial. Este era aquele tipo de sedução onde ele envolvia-me pela cintura, e beijava-me ferozmente, para deixar algo dele comigo.  E ele sempre conseguia deixar a marca mais pura e bela que podia existir.
Nós podíamos pensar que talvez o mundo fosse realmente com conosco, ou eu podia pensar que ele realmente gostava de mim... Mas havia algo no fundo, que me dizia não, que eu não podia acreditar nisso porque era bom suficientemente para ser falso.
Todavia eu pensava que esta oportunidade era única, portanto, eu aproveitava cada segundo ao lado dele. E ele aproveitava cada tempo ao meu lado. Nós nos completávamos de uma forma singular tão boba, que para nós, e para o resto do mundo, era banal.
A partir daí, a partir de onde começavam os beijos dados com fervor em meus lábios, com carinho em minha testa, com cuidado em meus ombros e o beijo que não era dado com os lábios dele, e sim com os olhos mirando-me com desejo, eu começava a escutar uma voz:
- Querida, acorde, hora de levantar.

segunda-feira, 21 de março de 2011

No title

   A liberdade nunca foi tão almejada. Seres (digo com a maior certeza que a maioria são jovens entre 16 e 21 anos que não são independentes) de vários lugares buscam essa missão de "libertar-se" de uma humanidade hipócrita.
   Contudo, com a mesma intensidade que esta é querida pelo público, ela também é rejeitada por um público de igual peso: a consciência destas mesmas pessoas.
   A consciência, definida como "faculdade que permite ao homem o conhecimento e a avaliação do que se passa em si mesmo e à sua volta" diz a tais indivíduos possuidores de uma verdadeira compulsão por se ver livres que esta compulsão não vale a pena.
   E por que não valeria? Ter uma rotina que quisesse ou simplesmente não tê-la, ver quem você quiser ver a hora que quiser, e poder controlar tudo sobre você talvez valesse a pena.
   Mas a questão é: você SE deixaria para trás para ser livre?

Melhores amigas x imaginação

   Eu sempre acreditei em amor. Não só naquele em que todos pensam entre duas pessoas de sexos opostos, mas também em um que talvez nem todos acreditem existir, o amor da amizade.
   “A amizade é um amor que nunca morre”, já dizia nosso finado Mário Quintana. E desde então, forcei-me a acreditar nisso, que amizade não morre. Porém enganei-me por completo, amizades morrem sim. E podem ser mortes trágicas daquelas dignas de homenagens através dos meios de comunicação.
   Todavia, da mesma forma com que morrem, começam outros laços entre duas pessoas. E assim, me sinto presa à vocês, melhores amigas, mesmo que vocês existam apenas nas minhas imaginações.

E aqui lhes vai uma história, no mínimo, interessante.

Somos quem podemos ser.
PRÓLOGO
            Por várias vezes tentamos agradar alguém. Por várias vezes erramos ao tentar agradar pessoas que deveriam admirar-nos por quem realmente somos. Um dia, todas as máscaras sempre caem, e cabe a nós orgulhar-nos ou não sobre o que está sendo mostrado ali…
                                             Somos quem podemos ser
            Em uma dessas tentativas, aparece em minha vida Megan, uma magricela de vinte e poucos anos, inteligente, elegante, bem sucedida e bonita, pelo menos quando comia.
            Eu, uma pessoa distante da humanidade – de certo modo – senti certo receio ao receber em minhas mãos o relatório sobre o estado de saúde de Megan: anorexia nervosa com seriíssimos agravos psicológicos.
            - Posso lhe fazer uma pergunta? – digo, preparando uma injeção.
            - Sim. – diz ela, fraca, frágil, com os olhos semi-cerrados e a voz que lutava para passar poucos centímetros para fora da garganta.
            - Como chegou ao quadro de anorexia?
            - Tentei agradar três pessoas. – assim que o disse, minha garota desviou o olhar, creio que para ela aquilo não era uma boa lembrança.
            - Quem? – perguntei realmente curiosa, porém preparada para o caso da paciente não querer conversar sobre o assunto. Eu estava com tempo, não havia nenhum paciente naquela noite, então, acomodei-me no sofá do quarto, e pus-me a escutá-la.
            - Primeiro, meu namorado.
            - Por quê?
            - Bom, ele é meu mundo, e sou o mundo dele. Eu queria sempre estar bonita e magra para ele, e eu me culpava por ser como era, não era gorda, estava normal segundo os médicos, mas… Eu nunca estava satisfeita. Ele achava que era loucura, que eu estava linda como estava, contudo eu não acreditava nele, bom, tentava não acreditar.
            - E ele vem lhe visitar aqui no hospital?
            - Ele vinha agora parou. Disse que só voltaria quando eu engordasse. Ele não é cruel? – seus olhos enchem-se de lágrimas e ela luta para contê-las.
            Não respondi, não consegui.
            - A segunda pessoa…?
            - Minha mãe.
            - Sua mãe? – digo realmente espantada.
            - Sim. Desde pequena, trabalho como modelo profissional e há muito tempo fiz algumas aulas de dança. Minha mãe sempre dizia-me que era preciso estar e ser magra, pois as magras conseguiam tudo. E é verdade – ela ri um riso de indignação, não de achar graça – com o salário de modelo viajei para a Europa, estudei, formei-me lá, tudo com o melhor. Conheci meu lindo namorado pelo qual sou extremamente apaixonada e apesar de sua condição para ver-me, sei que ele me ama também. Mas minha mãe sempre fazia minha cabeça, e para agradá-la, comia cada dia menos, até chegar onde estou agora.
            - E a terceira? – mal podia esperar para saber quem era, eu estava concentrada naquela história.
- Deus.
            Espantei-me prontamente. Deus? O namorado era de se esperar, consideraria natural, a mãe não seria tão casual, mas se tratando de pessoas, seria “normal”, seja lá o que isso significasse naquela situação.
            - Deus? – não consegui esconder meu espanto.
            - Sim.
            - Por quê?
            - Eu cresci em seguindo uma igreja, seguia a risca a bíblia, e minha mãe sempre cuidava para que eu não saísse da linha, porém eu nunca senti Deus em minha vida, quando eu mais precisava, como na morte de meu pai, eu não o sentia comigo. Então, se eu fazia tudo certo, por que diabos ele não me queria? Pensei ser a aparência, daí eu fui emagrecendo cada vez mais. “Viver era uma ferida aberta.”, já dizia Clarice Lispector.
            Uau! Uma garota anoréxica que lia Clarice Lispector e com falta de fé em Deus. Com certeza ela possuía agravos psicológicos. Novamente não respondi, fiquei calada, e fui saindo devagar da sala enquanto ela observava-me vagarosamente, e com lágrimas jorrando de seus olhos.
            - Hei! – ela tenta gritar, esforçava-se bastante.
            - Pois não. – tentei agir o mais natural possível.
            - Você me deixará morrer? – sinto a esperança rugir como um leão por trás de sua voz. Ela queria viver e eu tinha de ajudá-la.     
            - Isso só dependerá de você. - disse e fui embora.
            Passa-se duas semanas. Eu estava tomando um delicioso capuccino, quando chamam-me ao quarto 209. Vou correndo, e quando recordo-me de quem o era, paro.
            Megan.
            Será que…?

             
EPÍLOGO
            - Onde estou? – diz ela, um tanto confusa.
            - No céu, meu bem. – diz um homem de cabelos brancos, a voz grave e rouca, os olhos igualmente verdes aos de Megan.
            - Pai? Pai! – ela corre e abraça-o, feliz, sorrindo como nunca sorrira antes. – Onde estou?
            - No céu, querida.
            - No céu? – ela espanta-se.
            - Sim.
            - Eu morri?
            - Sim.
            - Como?
            - Não te recordas da anorexia?
            - Sim… – seu olhar era de pesar, porém não conseguiu chorar.
            - E o que devo fazer agora?
            - Há alguém que quer falar-lhe.
            - Quem?
- Você verá. Siga-me até a sala real.
            - Há uma sala real aqui?
            - Sim.
            - Entrem. – disse uma voz suave.
            - Quem é ele, pai? – Megan diz, cochichando para o velho.
            - Sou Deus. – respondeu a voz. Era estranho, a voz todos ouviam, porém de onde vinha, de quem era, ninguém sabia.
            - Deus?
            - Sim, lhe mostrarei alguns recados que não pôde ver.
            Então, de repente várias imagens da vida dela começaram a aparecer no ar. A primeira foi quando ela tinha dez anos, na morde do pai.
            - Lembra-te da morte de teu pai?
            - Sim. – ela diz, com os olhos cheios de lágrimas. Então, a imagem muda, aparece Megan deitada, e seu sonho nas noites de luto pelo pai. Os sonhos eram bons, e a voz soa novamente:
            - Eu velava teu sono, não deixava que coisas ruins acontecessem neles, você era uma criança, e elas são as maiores purezas que já criei. Eu estava contigo.
            Silêncio.
            A imagem muda novamente. Agora era um acidente de carro, o namorado dela ficara em coma por meses.
            - E no acidente, estavas comigo, Senhor? – Megan pergunta um tanto revoltada.
            - Sim. – a imagem muda de novo. Era Megan no mesmo carro, e minutos antes do acidente, ela sai, pois havia brigado com Marcos.
            - Como estava comigo nesta hora?
            A imagem falava por si, Megan ficara de fora, e Deus lhe dera forças para cuidar de Marcos. Ele estava com ela.
            - Então, por que eu nunca O senti antes, por que eu sempre achei que o Senhor não estava comigo? – ela chora.
            - Porque você estava tão confortada por mim, que nunca prestara atenção em quem realmente sou. Todavia, eu sempre estive com você. Eu tem amo, Megan, e sempre te amarei. Você é quem você pode ser. E eu te amo do jeito que és.

Flores congeladas

   De vez em quando as palavras machucam, disso todos sabem. Mas há maneiras particulares de se sentir a dor. Há lágrimas mais doloridas, e que com o tempo, só doem mais. Há outras que doem insuportavelmente de início, mas depois…  depois simplesmente deixam de existir.
E com o desenrolar dos dias, das horas, aquele coração bobo, “mole”, vai desaparecendo, assim como o sol aos finais dos dias e ao finais dos verões. Ah, os verões…
   Realmente é incrível como o verão está propício ao sofrimento. São suas férias escolares, do trabalho; e esteja você onde estiver, sempre encontrará aquela pessoa que fará a diferença no seu verão. Você, de coração, quererá esta pessoa não só pelo verão, mas então será complicado demais a estadia de vocês fora desta época do ano.
E as lágrimas - aquelas citadas agora pouco - chegam. E você derremará-las por uma pessoa idiota qualquer que nem se quer liga quando você está triste, ou precisando de colo.
   Daí passa o verão, você não esquece o tal indivíduo… vem o outono, e nada…e no íntimo aquele desejo fulminante de querer de volta, voltar ao passado e reviver tudo… no inverno vocês se vêem novamente, e então nada foi realmente esquecido, ao menos para você.
   Porém o inverno está incrivelmente proprício ao esquecimento, por o gelo do clima, aquela neve de alguns lugares, e seus queixos batendo fazem o seu coração esfriar, e ele esfria, e lhe chamam de sem coração.Você não é sem coração, apenas soube como edcucá-lo à sua maneira para disparar na hora certa, pois no fundo, até o pior dos terroristas tem sentimentos.
   Terminado o inverno, chega a delicada primavera. Aquelas flores lindas mas que com o passar da estação, voltam a enfeiar-se por completo. E o mesmo ocorrerá ao seu coração, ao seu amor de verão… E você sempre esperará pelo próximo verão, para descobrir quem será a nova flor da sua primavera.

Vírus da era glacial do século XXI

   É exatamente assim um coração, como um bolo de chocolate.
   Ele começa sempre inteiro, inocente, bobo e feliz. Com o tempo, você cresce, vê todas as coisas passarem diante de seus olhos, e vai deixando a inocência, a bobice, e parte da felicidade de lado, e então, aos poucos, vão tirando pedaços, fatias generosas de seu coração, até que não sobra mais nada dele, e todos começam a dizer que você é uma pessoa fria.
   Você não é frio(a) caro(a) colega. Você, infelizmente, deixou de ser uma criança, para tornar-se um adulto com o coração a menos.
   Pergunte-se agora se este coração lhe faz falta, porque, ao meu ver, ninguém sente falta dele. Todos desgastaram-o tanto que hoje lhe julgam por você obter total controle sobre seus sentimentos, e os outros (a massa que não consegue fazer o mesmo, ou que não teve este mesmo processo de "formação sentimental") sentem inveja de tal controle.
   Inveja sim, pois os pobres mortais seres sujeitos aos sentimentos banais e tolos não conseguem manipular um choro desnecessário, ou um grito inconsequente e precisam de colo, vulgo "ombro amigo" para desencargo de consiência.
   Nós, os tidos como "frios(as)" somos quase um espécie em estinção, e não devemos reprimir a maioria dos "quentes" (?). Pelo contrário, vamos multiplicar a espécie, vamos contaminar a população com esse "vírus da era glacial do século XXI"