terça-feira, 29 de novembro de 2016

Caixinha de surpresas.

A vida é uma caixinha de surpresas. Pura magia.
Pode ter vários tons e sons. Tem muitos cheiros e sabores. Um dia ela é colorida, mas também pode ser cinza. Um dia faz barulho, em outro silêncio. Um dia doce, salgada ou amarga.
É magia e puro equilíbrio.
Um dia, acontece toda a mágica, a de viver. Acordar para mais um dia e vivê-lo da melhor forma possível. Abrir os olhos e estar vivo.
Um momento, você sonha, almeja, deseja, planeja. Você vive, ama, beija, abraça. Você se acha forte, capaz de qualquer coisa e que sabe de tudo. E vai deixando, muitas vezes, coisas importantes, para depois. Sabendo que tem tempo.
Mas não se sabe de nada.
A caixinha de surpresas não quer saber de planos ou desejos, ainda que tenhamos que fazê-los e isso faça parte da magia de viver. Ela se fecha quando tem que fechar. Te empurra.
Você sai da caixinha e quer voltar, nunca pensa que pode acontecer um imprevisto e ela se fechar antes do tempo e... Acabou! Não dá mais. Surpresa!
É de repente que tudo pode se perder. Como na mágica que a vida acontece, abrir os olhos e fazer tudo o que se quer, ela também pode acabar. Sem data prevista, hora marcada, lugar proposto, simplesmente sem saber.
O que antes era certeza, vira ponto de interrogação. Como? Porque? Onde? Como assim?
O que antes era sonho, se perde no tempo, como poeira que o vento leva. Vira interrupção.
O que resta é o sentimento vazio. O sorriso que nunca se apaga. As lembranças guardadas. A voz que não fala, mas não cala.
Resta tudo. E também não resta nada.
Porque a vida é uma caixinha de surpresas mágica, mas também é muito frágil. A vida é uma caixinha de surpresas imprevisível. Ame hoje, fale agora, demonstre de imediato. Não deixe para depois. Um dia você pensa que sabe o que vai tirar de dentro da caixinha, que tem tempo, e então ela te surpreende, mostrando que não é de certeza que ela é composta. Muito pelo contrário. Sabemos que estamos aqui hoje. Agora. Mas e amanhã? E daqui a pouco? Aonde?


Fernanda Aracelly

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Você é um elfo?

Você pode sentir medo sim. Você pode ter medo sim. E não há nada de errado com isso. E não é nada feio ter medo. Não é ridículo ser medroso. Ou frouxo. Ou coxinha. Ou amarelão. Você não é fraco por ter esse sentimento.




Você pode ser o melhor escritor e ter aquela insegurança com o seu novo texto. Ter as melhores notas da sala e sentir aquela ponta de tristeza por não ir bem em uma prova. Desejar de todo coração jamais ficar preso em um elevador ou ver o palhaço no circo. E sabe por que você pode ter, ser e sentir tudo isso? Porque talvez você seja um elfo.



Acalme-se, já explico! Esses seres especiais são tidos como belos e luminosos. E quando se tem medo, você irradia para mundo ao seu redor uma luz incrível porque necessita de todo o cuidado, precisão, força e coragem para entender e analisar cada espaço que possa ser ameaçador e evitar o desencadear de uma sensação que, ok, confesso, não é prazerosa.




Quando se é um ser belo e luminoso, todos podem enxergar a luz que vem de dentro de você. Os outros são capazes de enxergar o seu interior e ver o quão bom e natural você é, afinal, é na bela natureza em que os elfos vivem. Quando se é um ser belo e luminoso, seus raios são fatais para aqueles que vivem na escuridão e estão a postos para, de alguma forma, sugar sua luz, não para que eles brilhem, mas, para que você não brilhe mais.


Então, veja que o medo é uma grande chave para a luminosidade. Para o cuidado. A precaução. A coragem. É preciso ter medo para ter de enfrentá-lo e a cada noca batalha vencida, um raio é acrescido. E quanto mais raios, mais luz. E quanto mais luz, mais vida. E aí eu te pergunto: você é um elfo?





Anna Laura Tavares

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Pode demonstrar sim!

Pode demonstrar sim!
Pode responder no mesmo minuto, mandar áudios longos e falar que está doendo de saudade.
Pode demonstrar sim! Quem falou que não?
Pode falar o que sente e ser furacão.
Demonstra! Porque não?
É só assim que vem a reciprocidade.
Pode se apegar sim. Sem medo nem receios. Sem vestir a máscara do desapego só porque está na moda. Moda passa, o que é verdadeiro fica. Pode demonstrar sim, senhor.
É sentimento, e não batalha naval. Não é jogo. E assim, as duas partes ganham. Sem empate e saindo do lugar.
Pode demonstrar sim. Onde está escrito que não?
No mundo dos sentimentos não tem manual para seguir. E quem dita as regras e a intensidade, é o coração.


Fernanda Aracelly

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Bicho Papão.


   Um monstro com duas cabeças corria atrás de mim, depressa, soltando fogo pela boca... Eu tentava me afastar, mas percebi que minhas pernas não funcionavam. No momento em que ele estava prestes a me atingir, acordei, soltando um grito.
    Quis chorar, mas sabia que mamãe logo viria me ver. Não precisava ter medo.
    Só que ela não veio.
    Enfiei a cabeça debaixo das cobertas, por que o quarto estava todo escuro e só pensava nos bichos e dragões, e em todo aquele fogo.
    Não consegui ficar lá sozinha, pulei a muralha de ursos de pelúcia que tinha ao redor da cama e fui direto pro quarto dos meus pais.
    Eles iriam me proteger dos bichos feios e poderia sonhar com várias fadinhas coloridas!
    Mas antes de bater na porta, escutei alguns gritos. Só não entendi porque gritar, se estava tudo tão silencioso, e nem o Toddynho, nosso cachorrinho, estava latindo naquela hora!
    — E o que pensa de mim, afinal? Não sou esse tipo de homem!
    — Não é o que vem parecendo ultimamente. Então, repito, pode ir embora, é livre pra isso.
    — E o quê? Deixar Analú pra trás? Caramba! Além de ser um péssimo marido, nem imagino como deve me classificar como pai, hein?
    — Não diga besteiras, Diogo! — Mamãe chamou papai pelo nome, e não por “meu bem”, como sempre faz. Acho que... Será que aquela era uma briga como as que a Lari disse que os pais dela tinham, quase todos os dias? — Não te reconheço mais. Vive para o trabalho, como se isso fosse o mais importante na vida!
    — E é, Eduarda! Nesse momento é! Preciso dar o melhor para você e Analú, não entende isso? Desde que casamos, assim que você engravidou, temos lutado tanto! Não tivemos nem tempo nos encaixar na nossa própria vida a dois e agora que tudo melhorou, temos que lutar para manter isso!
    Ouvi mamãe chorar, depois papai suspirou, só que nenhum dos dois falou mais nada.
    Estava assustada com os gritos, mas o silêncio me fez ter muito mais medo.
    A fechadura da porta rodou e tive que sair correndo pro meu quarto. De lá escutei os passos pela casa, depois o barulho da porta se fechando.
    Meu coração apertou assim que ouvi o motor do carro do papai. Pelo jeito ele nem havia pego o casaco antes de sair.
    Como ia aguentar o frio lá fora?
    Não consegui entender. Se estavam bravos um com o outro, não me importaria em deixar a mamãe dormir comigo naquela noite... Só acho que papai não precisava ter ido embora.
    Mas e... se ele nunca mais voltar? A Regina, uma colega da minha sala, me disse que o pai dela saiu de casa e até se casou com outra mulher depois.
   E se, enquanto estivesse fora de casa, o papai encontrasse outra esposa? Ou até outra filha?
    Os monstros do meu pesadelo já não me davam medo, mas escutar o choro da mamãe do outro lado da parede me fez abraçar forte o José, meu elefante de pelúcia preferido.

    Acordei assustada ao ouvir o barulho da mamãe abrindo a janela do meu quarto.
    — Bom dia, amor! — me sorriu, tirando a coberta de cima de mim. — Vamos levantar? Tenho que te levar na natação e depois terminar a encomenda de um bolo para o almoço.
    Fui pra cozinha ainda sonolenta, mas logo o cheiro de bolo e do leite quente com Nescau me despertou magicamente.
    E então percebi que a cadeira onde papai sentava sempre para o café da manhã estava vazia. Ele não voltou pra casa?
    — Cadê o papai?
    — Saiu mais cedo pro trabalho hoje, querida.
    Senti raiva, porque se fosse adulta ia poder dizer que sabia que mamãe mentia, sem que ela tentasse me desconversar de novo.
    Mesmo contrariada, tomei café e depois mamãe me deixou na natação, voltando pra casa para terminar o tal bolo. Mais tarde, enquanto mamãe preparava o almoço, tomei banho e assisti desenhos animados.
    Mas na verdade, sempre que passavam na frente de casa ou mamãe fazia algum barulho diferente na cozinha, olhava para a porta da sala, pensando ser o papai.
    Depois ajudei mamãe e por a mesa, mesmo contrariada. Queria ficar de olho, caso ele aparecesse.
    Quando voltei para a cozinha, já com o prato servido, papai acabava de deixar sua pasta no sofá. Corri, abraçando suas pernas bem forte.
    — Que bom que voltou, papai!
   Nos sentamos à mesa para almoçar, só que muita coisa estava diferente.
   Nem o papai nem a mamãe pareciam muito animados em conversar. O que piorou quando papai deixou o prato de lado, sem ter comido tudo.
    Mamãe bufou, parecendo irritada: — O que foi? A comida não está boa?
    — Eduarda — de novo aquilo de chamar pelo nome. — estou sem fome e com pressa.
    — Está bem. Mas espero que esteja lembrando que hoje você quem leva Analú na escola!
    — Não posso. Tenho audiência no fórum daqui quarenta minutos.
    — E eu preciso terminar uma encomenda para agora à tarde!
    E então aqueles gritos começaram de novo. E eles nem se importaram com o fato de eu estar ali perto, vendo tudo.
    Foi ruim ver papai chegar e nem cumprimentar a mamãe com um selinho, como sempre fazia; além da conversa que tínhamos durante o almoço, onde eu sempre podia contar sobre o que aprendi na natação, mas que não aconteceu do mesmo jeito hoje.
    Ouvir os gritos doeu muito mais do que tudo isso junto.
    Pedi pra parar com a briga umas duas vezes, mas não me escutaram.
    Então saí correndo pro meu quarto e deitei na cama, abraçando o José. Não queria ouvir mais nada!
    Foi aí que vi o porquinho em cima da minha mesa de cabeceira e tive uma ideia!
    Peguei o cofre e voltei para a cozinha, onde mamãe já estava de costas pro papai, como se pudesse ignorá-lo enquanto ele continuava gritando.
    — Parem de brigar, por favor! — falei mais alto, o que funcionou, porque os dois enfim me olharam. — Aqui, ó! — aproximei deles, entregando o porquinho pro papai. — Pode ficar com ele pra vocês.
    — Meu bem, isso é seu, porque está nos dando? — papai se abaixou pra ficar do meu tamanho.
    — Se as brigas forem por causa do trabalho e de dinheiro, dou as moedinhas. Aí não vão precisar trabalhar muito por um tempo e nem vão mais brigar.
    — Filha... — mamãe se aproximou de nós, já chorando.
    — Parem de brigar, por favor. Não quero que o papai vá embora de novo. E nem que arrume outra esposa ou filha por ai...
    Os dois só se olharam, depois me abraçaram forte, enquanto mamãe ainda chorava baixinho.
    Eles recusaram meu cofrinho e então achei que voltariam a brigar. 
    Mas isso não aconteceu. Acho que, no fim das contas, minha ideia havia funcionado.
    E eu ainda tinha minhas moedas.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Com muito amor, Paulo

Camila tinha certeza de que a felicidade era algo que irradiava de si, somente por saber que ele existia e que, principalmente, era dela. A sua sensação era de que não haveria luz se não o tivesse. Sentia que cada pedacinho dele lhe completava da maneira mais sublime que duas pessoas poderiam se transbordar.
Às vezes ela pensava que iria explodir de tanto amor que sentia, porque era algo que lhe preenchia da forma mais pura que poderia existir.
Às vezes ela queria sair por aí falando a todo mundo o quanto ele fazia sorrir e que ele, somente ele, era dono dos seus mais sinceros sorrisos.
A base era a sinceridade, tanto dos sentimentos compartilhados quanto dos mais simples olhares que dedicavam um para o outro.

Era o tipo de cara que chegou em sua vida, como dizem por aí, chegando. Sem pedir licença abriu as portas e invadiu seu coração, e foi ali que ficou, como era seu lugar de direito. A fez enxergar além, sorrir diariamente e fragilizar seus muros, apenas para que ela encontrasse um mundo de cores lá fora. Ele não tinha noção dos efeitos que lhe causava, eram sempre arrebatadores e imensamente indescritíveis. Era o tipo de cara que a fez querer sempre dar mais um passo. Ele era o responsável por tudo. Sorria e seu mundo coloria. A olhava e tudo se iluminava. A beijava e a felicidade nunca parecia ter fim.

Foi acordando num daqueles dias em que mesmo que a chuva caísse lá fora, ela estava feliz, porque simplesmente ele estava ao seu lado e ainda que o sol não houvesse aparecido, Camila sabia que estava lá, porque simplesmente ele estava. Sorriu, vendo-o no mais profundo sono, sorriu porque o cheiro dele era o de sua felicidade, sorriu porque simplesmente era ele. E ela não queria que fosse mais ninguém.

- Que sorriso lindo! – ele disse com sua voz rouca.
- Você nem abriu os olhos. – ela soltou, numa risadinha.
- Mas eu simplesmente sei. – respondeu, finalmente a encarando depois de abrir os olhos. – Bom dia, baby.
- Bom dia, amor! – ela sussurrou, aconchegando-se ao lado dele. – Sonhei com você!
- Eu estive aqui a noite inteira, seu sonho foi real.
- E incrível! – ela completou, voltando a olhá-lo. – Preciso tomar banho se não vou me atrasar. Mas não quero.
- Me conte uma novidade. – ele riu, apertando seu nariz. – Vai logo, que está chovendo e sua preguiça é maior nesses dias.
- Chato. – resmungou, levantando-se.

O coração estava acelerado, é claro. Estar ao lado dele sempre lhe causava esse tipo de sensação. Havia um par de anos que estavam juntos naquele relacionamento que acendia cada parte dela.
Coçava os olhos quando entrou no banheiro e viu o chão um pouco molhado.

- Você acordou mais cedo, amor? – perguntou, gritando de lá de dentro.
- Pode ser que sim. – ele disse de volta, no mesmo tom.
- Nem para secar o chão, seu bagunceiro!
- Desculpa, amor! – ele respondeu, e ela podia ouvir em sua voz o sorriso que tanto amava.

Suspirou e olhou-se no espelho que havia acima da pia.
O coração perdeu a batida por alguns instantes e o sorriso ficou imenso em seus lábios, pintando a felicidade que nunca acabava dentro de sim. E ele quem lhe dizia que era sempre o surpreendido... Não se dava conta de que surpreendia muito mais?
Já havia visto coisas daquele tipo na internet, mas daquela forma? Nunca. Simplesmente por que era ele. E realmente, não poderia ser mais ninguém.

No espelho, escrito de batom vermelho, estava a frase que fez o coração de Camila aquecer e como se todas as suas certezas estivessem ainda mais corretas.

“Querida Camila,

Você quer se casar comigo?

Com muito amor,
Paulo.”


Era uma imitação dos bilhetes que ela sempre lhe deixava antes de ir trabalhar e ele ainda estava dormindo, porque entrava no serviço pouco mais tarde. Sorriu, porque ele era incrível e o caminho que ele encontrou no labirinto dentro dela não havia volta, era só ele quem conhecia e ela não queria que mais ninguém tivesse tal conhecimento.

Incrível era ver como cada parte dela pertencia a ele.
Incrível era saber que ele e somente ele acelerava seu coração.
Incrível era que aquele sonho diário era realmente sua realidade.

Tomou seu banho quente sorrindo sem parar. Enrolou-se em uma toalha que estava ali no banheiro e quando saiu, notou que Paulo voltara a dormir. Trocou-se rapidamente, pois sabia que estaria atrasada se não o fizesse e no fim, escreveu seu bilhete, mas o conteúdo daquele era muito mais importante e significativo.

Não havia como não dizê-lo nada além de:

“Como se eu fosse querer ser de mais alguém que não fosse você. Sabe que meu coração é todo seu e não há como minha resposta ser outra além de um grande SIM.

Com muito mais amor,
Camila.”



Fernanda Aracelly

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Como aqueles amores.


    Um dia disseram a ela sobre os amores que ela viveria. Aqueles tipos que, de tão intensos, seriam serenos. Lhe falaram também que, no entanto, esses tipos de amores são os mais propícios a resultarem em um coração destroçado, quebrado.
    Ela não acreditou, todavia.
    Até que sentiu. Mas não se importou com tudo o que haviam lhe dito. Por que se viver significava amar e sofrer… ela se jogaria, se entregaria. E não se arrependeria.
    Preferia ter dores como as medalhas que um soldado vindo da guerra, ao que viver sem ter a chance de amar.
    Ah, pobre menina... Eles lhe diziam. Chamavam-na de inocente. Mal sabendo eles que eram os maiores culpados de sua própria infelicidade.
    Pois eles preferiram julgá-la a viverem suas batalhas, encontrar seus amores.
    Ah, coitados. Ela pensava.
    Gostava de pensar que tentara avisá-los, da mesma forma com que fizeram com ela. Só não tinha certeza se, ao contrário dela, abririam o coração para os sentimentos.
    No fundo eram todos soldados entregues à guerra.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Leve

Os raios de sol alcançavam a praça pública de verão, queimando a pele estupidamente branca dele e conferindo um bronzeado à pele morena dela. Ele pediu para a mãe passar protetor no rosto que estava ardendo e pegou a bicicleta ainda com rodinhas para percorrer incríveis 200 metros – que era o permitido pelos pais.



Por volta do metro 100, os olhinhos perspicazes de um grande rapaz de 5 anos avistou a menina que parecia ter a sua idade. Ela estava rindo tanto que colocava as mãos miúdas sobre a barriga que começava a doer. Ele parou a bicicleta ao lado dela e desceu.


- Olha! – ela disse e apontou para o céu, logo em seguida, deitou na grama, perto do chafariz.



Ele a imitou. Viu que uma nuvem em formato de peixe estava numa posição na qual parecia que sua boca soltava a água do chafariz e vários outros peixinhos-nuvens ficavam nessa água. Começou a gargalhar também.



Logo, a risada dos dois contagiou outras crianças que se deitavam para ver os peixinhos no céu. E nenhum adulto entendia o que estava acontecendo. E a maioria deles também não quis entender, mas, milagrosamente, nenhum quis tirar a sua criança dali.




Era lindo de se ver tantos pequenos reunidos e gargalhando. Aquele riso que só de passar perto, contagia. Aquela inocência de brincar olhando o formato das nuvens. Já pensou se o olhar para o coração das pessoas também contagiasse?










Anna Laura Tavares

domingo, 13 de novembro de 2016

Pequenos-Grandes momentos.


    Vivemos aguardando por um momento extraordinário em nossas vidas.
    Um primeiro amor; uma viagem inesquecível; um encontro entre amigos regado à gargalhadas; saborear uma comida exótica e, estranhamente, gostar; aprender um novo ofício; relembrar um momento divertido da infância.
    Passamos toda a nossa vida procurando aquele sentimento que surgirá de dentro para fora, explodindo. Mas esquecemos, com uma frequência maior do que deveria ser permitido, que as melhores coisas também podem vir de fora para dentro.
    O que nos falta é a sensibilidade e o coração aberto para perceber: grandes podem se tornar os pequenos momentos.

Geyse Ribeiro

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Chuva

A chuva fraca batia na janela em plena tarde de inverno. O dia amanheceu cinza e frio, preguiçoso com cara de domingo do jeito que ele gostava – ainda que fosse uma quarta-feira qualquer.


Através do vidro transparente emoldurado pela madeira branca, ele via o sorriso dela. Os cabelos cacheadinhos que caíam despretensiosamente sobre a cintura na medida em que o sorriso se alargava enquanto os pés rodopiavam sem música no meio do quintal. Ele sentia falta disso.
Saudade era uma coisa complicada. Ele mandou uma mensagem às 14:19 chamando-a para um café. Naquele café pequeno, desconhecido e aconchegante dos dois. Ela não respondeu.



Por volta das 20:37, colocou o casaco, a touca de lã, os óculos de grau com hastes pretas e saiu pela pequena cidade. Sentia falta dela ao seu lado para brincar de soprar no frio só para ver a fumacinha que saía da boca. Sentia falta do riso exagerado quando ele tropeçava na calçada. Sentia falta de colocá-la entre suas pernas e abraçar o corpo pequeno comparado ao dele, sentindo o cheiro de lavanda do cabelo.


A nostalgia acelerou o coração quando adentrou o café – sozinho. Era a primeira vez que enxergava o lugar com os olhos dele e não com os dela. Notou que a decoração vitoriana era bela, mas, não exatamente excepcional como antes. A menina que servia o cappuccino era linda, mas, não chegava aos pés dela. O frio era estarrecedor, mas, suportável sem o corpo dela.



Todavia, a maior percepção que ele tivera naquele instante era a de que ela havia ido embora. Talvez – e tomara que – para sempre. Ele sentia muita falta dela, bem verdade, e provavelmente estaria melhor assim. Porque assim, ele percebia que se ela partiu, é porque um dia chegou, e isso seria motivo suficiente para agradecer.




Anna Laura Tavares

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Amor é.

- Não sei o que ainda estamos fazendo juntos! – as palavras soaram cruéis no momento da raiva.

Se você for parar para pensar, no momento da raiva, é quando mais falamos sem pensar. E, nesses momentos, é quando mais magoamos a quem amamos. Porque uma coisa é certa: não dá para voltar atrás com palavras. E elas machucam quando ditas de maneira errada.

Joaquim respirou fundo, sentindo o golpe das palavras proferidas por Anna. Doía mais por ela ser sua amada. Doía ouvir aquilo dela.
Anna respirava com dificuldade. Estava sufocando lentamente. Não que sentisse o que disse a Joaquim, o problema era que naquela hora a raiva possuía seu corpo e pensamentos, e em momentos assim, a tendência é agir sem pensar.
Ambos se encaravam naquele instante. Ela o olhava sabendo que o havia magoado com suas palavras. E ele ainda a encarava, sem crer no que ela falara.

- Tá fazendo o que comigo ainda, então? Se nem sabe! Melhor separar de uma vez.
- Ah, Joaquim, eu não queria...
- Mas falou, Anna. – ele disse. – Estou te odiando nesse momento. Acho melhor não falarmos mais nada.

E, assim, ele saiu da sala. Deixando as palavras soltas, as pontas desamarradas, a briga sem desfecho e dois corações aos pedaços. Anna sentou-se no chão frio e tentou respirar, àquela altura, nem lembrava mais o motivo da briga, só conseguia lembrar o fato de que estavam magoando um ao outro. E amor não deveria ser assim, deveria? Amor não deveria magoar.
O problema é que amor não magoa. As pessoas sim. A culpa não é do sentimento pai de todos. A culpa é de quem sente.
Ela dissera que não sabia se deviam estar juntos.
Ele a odiava naquele momento.
Palavras duras. E que em nada condiziam com o que pregam sobre amor.

Mas amor vai além. Amor também é dificuldade, e saber enfrentar. Amor não é esquecer, é saber perdoar, ainda que magoe. Amor não é sempre um mar de rosas e ele se fortalece quando há tribulações e tempestades.

O silêncio era ensurdecedor. Joaquim em um canto. Anna em outro. Nenhuma palavra era dita. E era irônico que a falta delas também magoasse.

Bateu 23hrs. E o sono veio junto. Em sintonia, ambos foram para o quarto.
Ainda em silêncio. Sem se encarar.
Anna banhou-se. Joaquim escovou os dentes.
Silêncio.
Anna trocou de roupa. Joaquim lavou o rosto. Anna deitou-se. Joaquim entrou no quarto.
Silêncio.
Anna fechou os olhos. Joaquim deitou ao seu lado.
Palavras.

- Eu acho que não sei o que fazer sem você.
- Anna, por favor, não.
- Tudo bem! – ela sussurrou, e tentou arrastar-se para perto dele. – Entendo que esteja me odiando. Eu estou me odiando. Mas... Não vamos dormir brigados. Amanhã a gente continua brigados, mas agora só quero dormir apaixonada. E com o amor da minha vida.

Ela não ouviu uma resposta em palavras, mas sentiu o abraço logo em seguida e sentou-se aliviada. O abraçou de volta com mais força e relaxou.

- Eu não estou odiando você. – ele sussurrou.

Amor também é isso: ceder. É não deixar o orgulho falar mais alto. É amar, acima de tudo.


Fernanda Aracelly

domingo, 6 de novembro de 2016

Luz

⁠⁠⁠Todos já tiveram o pensamento de que algum dia viveu nas trevas e só percebeu isso quando tudo ficou iluminado. Pelo menos uma vez na vida, já tiveram que tatear as paredes para sair do quarto e chegar à cozinha com segurança porque não queriam acender a luz.



Acontece que nem todos têm a oportunidade de acender a luz, seja porque já nasceram assim ou porque aconteceu de desligarem o interruptor permanentemente. Já parou para pensar como é estar todos os dias no quarto escuro?


Você começa com medo. Mas, consegue evoluir para um conforto aceitável (porque na verdade, nunca será muito agradável) porque simplesmente tem que ser assim: sobrevivência.



Entretanto, os demais não sabem o quão super heróis esses seletos indivíduos são, pelo maravilhoso fato de poderem enxergar com o coração. Tudo ao redor está no completo breu e ninguém repara que o toque é um tipo de olhar. O cheiro consegue te fazer ver a alma de outro ângulo. A audição lhe oferece a visão sobre aquilo que o peito carrega e talvez se queira esconder. O paladar consegue oferecer o treino para conseguir aguçar que as outras visões sejam detalhistas.



Percebe que não são eles que estão nas trevas? Consegue – olha que engraçado – enxergar como o mundo é tão maior que cores e formas? É capaz de afirmar que consegue ver com o corpo inteiro? Porque nem só de olhos vive o homem.




Anna Laura Tavares

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Sobre abraço.


- Eu te amo. – a voz soou baixa, quase inaudível, mas tinha uma força imensa, pois vinha do fundo do seu coração. Ele não ouvira, estava dormindo.

E apesar do tom baixo, o sussurro se sobressaiu à calmaria daquele momento. Um suspiro logo após foi o que ouviu. E então o aperto em volta do seu corpo se tornou mais forte, enquanto alisava de maneira suave os braços que lhe envolviam.

Lana achava que no mundo não existia nenhum abraço mais aconchegante que o dele. Não era daqueles que se esbarram e mal se tocam. Não era daqueles que são rápidos e sem emoção. Os dele eram abraços enlaçados, quentes e transbordantes. Longos, sinceros e cheios de saudade, mesmo que ainda ontem tivessem se visto e se abraçado. E principalmente, quando vinham acompanhados de beijinhos, era que se tornavam ainda mais completos.
Lana era fã de abraços, ainda que fosse uma pessoa um pouco fechada. Lana era fã dos abraços de Henry, principalmente. Era seu lugar no mundo. E se braços podiam ser lar, os dele eram o seu. E o cheiro... O cheiro inconfundível e que lhe fazia sentir-se em casa. O cheiro que lembrava amor e aconchego.
Era a combinação perfeita o abraço apertado e o cheiro bom. Fechou os olhos, desejando que aquilo pudesse se repetir amanhã, depois e para sempre.
Paz.
Ponto de equilíbrio.
Amor.
Tudo junto!

- Seria absurdo dizer que você é tudo na minha vida? – a voz de Henry tomou conta da calmaria que envolvia aquele momento.
- Não quando você também é tudo na minha. – ela murmurou de volta. – Te acordei?
- Não! Não se preocupe. Você não deveria estar dormindo?
- Perdi o sono. – respondeu o encarando e ganhando um beijo na testa. O aperto do abraço não havia cessado.
- Algo aconteceu? – a preocupação tomou conta dos olhos dele.
- Não. – aconchegou-se mais a ele. – Não se preocupe.
- Então volte a dormir, menininha. – alisou seu ombro nu, beijando sua bochecha. – E estarei aqui se acordar outra vez. Estarei aqui sempre. Sabe disso, não sabe?
- Eu sei sim! – afirmou, fechando os olhos.

Não dormiu imediatamente, ficou curtindo a sensação incrível que era estar no abraço dele. Ele apertou com mais força, beijou sua cabeça.

- Eu também amo você. – o sussurro veio logo em seguida.

Lana sorriu, ainda de olhos fechados, sabendo que ele havia ouvido sua declaração momentos atrás.

- Você estava acordado. – ela disse, ainda sem abrir os olhos.
- Vai dormir, Lana.
- Eu realmente amo você. – disse, antes de finalmente apagar e saber que realmente estava no melhor lugar do mundo.


Fernanda Aracelly

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Seja Só.


    O que sei sobre o amor está resumido ao que li nos livros ou o que descrevem nos filmes. Um tipo de sentimento idealizado, pelo que me dizem, bem diferente do que realmente se é. Mas, não, não será sobre o amor a nossa pauta de hoje.
    A solidão talvez seja um assunto tão comum quanto, mas dele direi com algum conhecimento de causa! E não pense que essas palavras terão um teor tristonho... Bem, na verdade isso vai depender do olhar de quem as ler.
    Pois afinal, nunca se está só. Acredite! A solidão também é uma companhia. Nunca percebeu isso?
    Vou lhe explicar meu raciocínio: estamos sempre sendo obrigados a entreter alguém. Ser companhia para o outro. Amá-lo, consolá-lo, incentivá-lo... E no fim, por algum motivo, as vezes acabamos nos esquecendo de ser, principalmente, companhia para nós próprios. Nos conhecendo de forma tão intensa quanto desejamos conhecer aos outros. Como um lembrete de que devemos pensar um pouco mais na gente. Colocar em prática as ideias para aquela viagem que estamos programando há meses. Ir ao novo restaurante que abriu na cidade. Assistir àquela série durante um dia chuvoso. Ouvir dez vezes seguidas a sua música preferida.
    Pode ser um pouco clichê o que irei dizer, mas pelo menos para mim isso é uma verdade absoluta: como ser uma boa companhia para o outro, se não se sabe ser companhia para nós mesmos?! Pelo menos uma vez na vida, tente, por um bem a sua saúde física e mental, não apenes estar só.
    Mas, a cima de tudo, ser só.