quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Intensidade

Eu demorei a entender o que queria
E, na verdade, nem sei se descobri de fato
Mas, quero viver no oceano, até perder o ar
Quero viver na floresta para retomar o ar
Quero viver nas montanhas e sentir o ar frio
Quero viver na cidade grande para o ar ruim entrar e eu ter de fugir para o campo
Quero viver no campo até decidir ir para o oceano
Mas, eu quero tudo isso agora
Você entende?
Ah! Claro que não
Você foi o ar ruim que entrou em mim na cidade grande
E vai demorar a sair
Porém, sei que vai sair
Então
Assim
Não volto mais para a sua cidade
Encontrarei lugares que queiram minha intensidade
tudodeumavezsó
A estrada da volta
Será apagada
E a vida há de seguir





Anna Laura Tavares

domingo, 17 de dezembro de 2017

“O que vai fazer amanhã?”

          Vai me ligar, dizendo que está com saudade do meu beijo, da minha companhia. Vai me falar pra te encontrar em dez minutos, mesmo sem me perguntar se tenho qualquer compromisso, porque de alguma forma, você sabe que é minha prioridade.
          Pretende aparecer na porta de casa, com a desculpa de ‘estava passando aqui perto’ e vai me convidar pra ir na sorveteria da esquina, mesmo que saiba que tenho encontro marcada com uma amiga dali a alguns minutos. Mas, bem... você sabe, eu colocaria esses momentos do seu lado como minha prioridade.
          Ou vai ignorar tudo o que sabe, fingir que nosso beijo não se encaixa como poucos nessa vida, acreditando que os arrepios não sejam acontecimentos grandiosos pra nós dois? Vai preferir sentir saudade e se calar, na tentativa de se afastar. Fingindo, de novo, que não sabe que mesmo agindo assim, seria minha prioridade?
         Infelizmente, por esses e outros motivos, também vou fingir que não sei de tudo isso; de que se me ligar hoje de madrugada eu não vou me render a sua voz, a saudade do seu toque. Vou esquecer por algum tempo, viver minha vida da melhor maneira possível. Tentar, quem sabe, me priorizar pelo menos pelo prazo suficiente até que você perceba que o seu lugar é ao meu lado.
          Mas, se isso não acontecer, já terei aprendido a viver sem você, a não sentir saudade e, talvez, até esse momento outra pessoa possa ter aparecido na minha porta em um domingo à noitinha, com um convite acompanhando de um beijo daqueles que dizem, por si só, que sentia saudades.

Geyse Ribeiro

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Sou de sumir

Eu só consigo amar alguém de quem eu possa me afastar de vez em quando. Chame de egoísmo ou ache isso um absurdo. Não me importo. É como me sinto. Essa é a minha lógica.

Eu já amei muito, agora quero amar pouco,
pois preciso controlar isso. Não quero consumir amor de forma excessiva, sem saber quanto tenho no estoque. Eu quero ter espaço para poder sumir. Eu não estou preparada para ter um caso sério, como os que eu tive antes.
Não estou. Eu não confio tão facilmente feito antes, não aceito mais certas coisas, e penso sobre tudo.

Eu não quero ficar presa. Eu quero poder partir, quando eu achar que não estou aguentando mais. Não é todo mundo que aceita esse tipo de relacionamento, e é por isso que eu estou sozinha e não sei quando voltarei a ter um amor. Sou cheia de partes imperfeitas. É difícil encontrar alguém que saiba lidar com você nos seus piores dias, e ainda escolha ficar.

O problema é que eu sinto tudo em dobro,
e fico sempre com o peso maior para carregar.
Quero poder sumir quando isso acontecer, pra me encontrar de novo,
quantas vezes forem precisas.

[eu quero poupar o meu futuro
amor de toda a confusão que eu sou].

Estar sozinha não é bom.
Nada de romantizar isso.
Eu sinto falta, de ter alguém.
Eu sinto falta do papo cabeça, eu sinto falta do toque, sinto falta dos beijos... Eu sinto falta de ter com quem contar.
Mas estou desconsertada, e não sei se algum
dia voltarei a ser alguém. Se voltarei a amar.
Pois sou inconstante. Eu sou de sumir.






Hypólita Cristina

Acalanto

Acalma esse seu coração
- tão inquieto -
Menina
É só uma maré ruim
Que logo vai passar
A nostalgia que bate à sua porta agora
Terá um fim
E você sabe disso
Não se preocupe
Lembra-se
Quantas vezes re-ergueu a cabeça?
Seu coração se re-erguerá também
Take your time
A vida ainda é bonita lá fora
Vai
Dança na chuva
Liberte-se
Não há nada mais bonito que ser livre
(Exceto seus olhos quando você sorri)
Acalma seu coração
É só uma maré ruim
Que logo vai passar




Anna Laura Tavares

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Esquecimento

Ele esqueceu o violão lá em casa. Assim como esqueceu a blusa de frio com o cheiro de perfume bom que ganha essência única ao entrar em contato com a pele dele. Assim como esqueceu como era estarmos juntos.


Todavia, recordou (a si mesmo e a mim) o que um corpo poderia pedir de alguém. Sem pudores, sem amarras, sem mágoas, sem feridas. Apenas o contato, o calor, os sons, o suor, os olhares que, no silêncio, falavam tanto.


Sinergia.


Era possível esquecer tudo isso?


A resposta é bem simples e óbvia: sim.


O grande x da questão é que seremos todos esquecidos. Não importa quando ou quem seja, cada pequeno ou grande detalhe de qualquer coisa será roubado de nossa memória. E então, nos restará apenas o perdão.



Perdoar quem nos esquecer. Perdoar a si mesmo pelo esquecimento. Ambos voluntários ou não. Saber que uma hora ou outra as coisas vão mudar. Você vai mudar. E nada estará sob seu controle.



Mas, ainda assim, saberá perdoar. perdoar é estar e ser livre. Sempre. É deixar ir. Porque só se deixa ir aquilo que chegou e, se chegou, seja grato enquanto pode. Enquanto não esquece.


Seja sempre grato e perdoe. Esse é o segredo.





Anna Laura Tavares

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Carta para Você



Querido Romeu,

Me ama?

Eu sei, começar uma carta assim é um pouco estranho. Mas queria perguntar de agora, antes que você termine de ler esta carta.

Eu não sou essa garota perfeita que todo mundo idealiza, sabe? Não sou mesmo. Muito pelo contrário, sou o oposto disso. Não gosto de rótulos nem padrões impostos, eu não vou a academia, nem consigo seguir uma dieta por mais de dois, ainda que vez ou outra eu tente, porque é como dizem, tentar não custa nada. Eu gosto de ficar largada em casa e morro de preguiça de lavar o meu cabelo, ainda que eu adore quando ele está limpinho. Eu não tenho paciência para salão de beleza e detesto, na verdade, passo longe e só gasto minhas horas ali quando é realmente necessário. A minha cabeça pensa em mil coisas ao mesmo tempo e eu me vejo mudando de assunto no meio de uma conversa, ainda que eu o faça sem perceber. Vê? Às vezes eu sei que é difícil me acompanhar. Sou um conjunto de pensamentos e sentimentos. Sou o tipo de garota que acompanha novelas, sofre por série, mas que adora desenhos animados. Não sei ser meio termo. Gosto de ser oito e de ser oitenta também. Sou carente, intensa e ansiosa. Gosto de rir alto, de companhia, de carinho, mas do meu silêncio e do meu mundo também. Um misto bem louco de ser.
Enfim, sou eu. Esse tipo de garota. Nada perfeita. Bem imperfeita.
Mas eu amo.
E eu te amo, Romeu. Amo leve, amo livre, amo com tudo o que eu tenho, que eu sei que não é muito diante do mundo inteiro, mas é tão grande que pode fazer seu universo. Gosto de estar com você, Romeu. Ou melhor, deixe-me refazer, eu amo estar com você. Amo os mínimos momentos, até os mais bobos e amo os mínimos detalhes. Ouvir sua respiração quando está dormindo, sentir seu coração batendo, o cheiro da sua pele e o calor dos seus braços. Amo seu corpo, seu olhar e quem sou quando estou com você. Amo que minha bagunça se arruma e que não preciso me conter ao seu lado. Amo a beleza e a leveza da sua alma, ouvir você contar qualquer coisa que me faça sentir mais perto ainda de você.

Ah, Romeu, sentir amor assim é para poucos, eu acho. Acredito que só quem é escolhido consegue mergulhar nessa imensidão do amor, cheio de uma incompreensão compreendida. Mas se alguma vez chegar a duvidar, titubear, saiba: o meu coração escolheu você. Sentir você. Amar você. E amar assim é tão sublime que tem sabor de céu. Algo tão bom, tão extraordinário que não dá para explicar.

Me ama?

Com amor,
Julieta.



Fernanda Aracelly

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Dois.

Um coração que bate por outro.
Dois corações que formam um só.
É, como diz aquela velha canção “carne unha, alma gêmea, bate coração...”.
Uau! Quem diria, Gabriel apaixonado. Isso mesmo, apaixonado. É o que dizem por aí. Mas para ele ia além, na verdade... Paixão era muito pouco para descrever o que sentia por Helena. Paixão parecia um sentimento vago diante do que sentia por ela. Talvez amandonado fosse a palavra ideal, primeiro porque não existia no dicionário, e era exatamente aí que ela tornava-se perfeita, simplesmente pelo fato de que não havia definição ou explicação, só acontecia. Todavia, se existisse, seria derivada do amor, e amor era tudo o que havia dentro dele. E mais um pouco.

E como o próprio amor é uma via de mão dupla, ele vai e vem, Helena sentia o mesmo por aquele que roubara seu coração. Talvez roubar nem fosse realmente o correto, pois ela o entregara de bandeja mesmo, sem medo. Helena, que sempre ouvira que não se deve entregar o coração com tudo e tanto assim, fez tudo ao contrário, mergulhou de cabeça na profundidade de Gabriel, sem arrependimentos, por que sabia que ele não era raso, então seu mergulho não iria lhe machucar. Helena, que sempre fora observadora e pensou que nunca sentiria tudo aquilo, estava amando, e para ela não havia sensação nem sentimento mais libertador que aquele, pois o amor que sentia por Gabriel lhe dava asas, podia voar, na mesma medida que era âncora e lar, para onde ela sempre poderia voltar.

Então, estavam os dois, ali juntos, naquela invernal noite de segunda-feira, aquele dia da semana que é sempre muito lamentável, que marca o fim da semana e o início da mesma. Para fins, sempre há novos começos, então eles sempre encaravam a segunda-feira como uma nova oportunidade. Aliás, todo dia o é.
A chuva caía de maneira torrencial lá fora, mas eles pouco importavam-se. A verdade é que para Gabriel e Helena, o mundo poderia acabar do lado de fora, mas dentro deles, juntos, tudo sempre estava apenas começando. Essa era a sensação.
Abraçados, em silêncio, apenas sentindo o cheiro e ouvindo os corações baterem, além da chuva lá fora, parecia que não dava para saber onde um começava ou onde o outro terminava. Um só. Exatamente o que eram.
O dia havia sido exaustivo. Helena tivera um dia cheio no trabalho e Gabriel um dia estressado. Haviam chegado juntos em casa. E abraçados, pareciam estar recarregando as baterias, porque era exatamente assim. Há quem, em um abraço, afaste toda a sensação ruim e exaustão, há quem em um beijo recarregue e anime tudo o que estava lá embaixo, há quem em um simples olhar e um sorriso, faça qualquer tristeza desaparecer. Eles eram assim, um para o outro.

- Você quer sair para comer alguma coisa, amor? – Gabriel quis saber, quebrando a calmaria.
- Eu não. – Helena respondeu, aconchegando-se mais ao abraço. – Estou em paz aqui.
- Mas daqui a pouco sua fome de leão ataca. – ele falou, rindo, abraçando-a mais forte.
- Certo, aí podemos providenciar alguma coisa. – rebateu Helena. – Enquanto isso, eu só quero ficar aqui, assim, com você.
- Está bem, manhosinha.
- Senti sua falta o dia todo, amor. – ela murmurou. – Me deixe aproveitar enquanto tenho você agora.
- Aproveite. – ele a apertou em um abraço, do qual ela soltou um grito.
- Quer me sufocar?
- Só de amor. – ele a encarou. – Também senti sua falta, o tempo todo.

Helena só sorriu, achegando-se a ele e fechando os olhos. O carinho em seus cabelos veio como uma canção regida por um maestro, e no mundo, não havia carinho melhor que aquele. Gabriel sabia que tê-la ali, em seus braços, sempre seria seu paraíso. E é... Aquele era o paraíso particular dos dois.
A sensação era da mais pura e sincera paz.
Minutos passaram-se e nenhuma palavra Helena dissera, Gabriel estranhou, mas não foi necessário comprovar para ver o motivo, ele bem sabia.

- Boa noite, sonequinha. – sussurrou, olhando-a dormir, enquanto continuava a acariciar seus cabelos.

No fim, estarem juntos, era tudo o que importava.
E sentir que um coração batia pelo outro. Como era. Como tinha de ser.


Fernanda Aracelly

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Espelhos

Seu chão era um enorme espelho que, em certo ponto do horizonte, não se enxergava mais, igual àquele momento quando o mar de funde com o céu. Era bonito e tranquilo.


Ele ainda não sabia o porquê, mas, o chão começou a ficar instável. Cada dia mais o medo se instalava. E, de repente, precisou olhar para o chão. Vez ou outra isso acontecia, entretanto, desta vez, parecia sério. O coração gelou.


Não muito tempo depois, o espelho quebrou. Milhões de pedaços espalhados por todo canto e houve cortes profundos, feridas novas foram formadas e algumas antigas foram reabertas e toda a dor voltou.


Olhou ao redor, viu que estava sozinho, aquele seria um momento dele com ele mesma. Ainda sangrando e dolorido, respirou fundo e atentou-se para alguns detalhes: o espelho estava quebrado, porém, ainda havia alguma coisa ali embaixo. Percebeu, então, que sua base era forte, apesar de tudo.


Reparou que os machucados reabertos latejavam, todavia, era possível suportar e, com calma, dava para pensar em curativos. E, por último, olhou cada caco ao seu redor. Os antigos estavam embaçados, alguns sujos, ele não se reconhecia mais neles. O insight veio: o passado precisava ficar para trás, ainda que fosse importante saber cada passo trilhado até ali.


Vez ou outra, essa situação acontecia. Tudo cicatrizava e a vida seguia. Dessa vez, não seria diferente, seguiria adiante, no seu tempo, curando e cicatrizando cada ponto necessário. Quem quisesse, que tivesse paciência de esperar. Era o SEU mundo em crise e precisava de ajustes.


Pé ante pé, levantou e tentou dar um passo. Mirou o chão, analisou que via seu reflexo em cada placa parada sob seus pés. Cada reflexo era diferente. Cada um levava a um caminho que ninguém sabia onde dava, mas, até onde se conseguia ver, eram caminhos planos.


Tantos planos pela frente. Como saber qual dará certo? Como decidir qual seguir? Qual vai demorar mais para quebrar? Em qual ele não estará sozinho? Era impossível saber. E era inútil pensar sobre isso.


Em silêncio, fechou os olhos, cantou a antiga canção de ninar, sorriu. Demorou um pouco, mas, rodopiar às cegas não doeu tanto, o chão de espelho estava se refazendo e algumas feridas não perturbavam mais.


Ouviu seu coração. Ouviu sua razão. Tentou fazer com que os dois chegassem a um acordo e, quando conseguiu falar feito, decidiu qual plano seguir.


De vez em quando, a instabilidade voltava, ora mais fraca, ora mais forte. Às vezes havia alguém para ajudar, às vezes, ele precisava encara sozinho, como dessa vez.


No novo caminho escolhido, foi mais cauteloso e se orgulhou disso. E havia alguém. Ficou feliz por isso. E sentiu que essa pessoa (assim como poucas outras) estaria ali, mesmo que ele precisasse encarar sozinho. Decidiu ficar, livre, acima de tudo. E viu o plano ser mais leve.




Anna Laura Tavares

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Perdição

Talvez você esteja perdido
Mas, como dizem por aí, perder-se também é caminho
Pode ser que o novo dê medo
Ansiedade
Incerteza
Dúvida
O que faço aqui?
E é aí que você descobre um novo incrível que
Quem sabe
Não teria descoberto


E eu espero que a sua descoberta seja..
Como é palavra?
M a r a v i l h o s a
E que você descubra
No novo caminho
Que não está sozinho
Que sempre tem alguém contigo (eu)


Mesmo que (você) não queira
Mesmo que (você) precise
Mesmo que (você) não precise
Mesmo que (você) queria
Haverá duas mãos
Dois ombros
Um colo
Dois ouvidos
E um coração



Sempre





Anna Laura Tavares

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Tic Tac.

Não tinha tempo.
Tic tac. Corre. Tic tac. Para lá. Tic tac. Para cá. Tic tac.
24horas parecia não ser suficiente para o mundo de coisas que precisava fazer.
Não havia tempo.
Nem para comer ou para uma mensagem responder. Tic tac.
Não há tempo.
Corre. Trabalha. Dirige. Problemas. Soluções. Mais problemas. Tic tac. Corre.

Dias pesados, sem brilho ou cor. Dias passam, semanas vêm e meses também. Tic tac.
Não tem tempo.
Mas o tempo passa.
Monotonia... Até quando?
Para e pensa. Desacelera. Olha em volta. Tem que haver brilho e cor. Tem que ser tic tac. Mas tem que ter tum tum. Coração batendo. Vida.
Tempo. Tem que ter. Agora. Já. Tum tum.

Disse?
Eu amo você. Eu sinto tua falta. Não sei viver sem ti. Você mudou o meu mundo.
Disse?

Sente?
Em conjunto, junto, colado. Tum tum. Agora, absorve. Tum tum. O vento, o cheiro, um abraço, um coração.
Sente?

Vê?
Um sorriso para você. O brilho, o entardecer. O mundo ao redor. O olho no olho.
Vê?

Faz?
Planos, realização. Uma visita. Uma surpresa. O dia, o mundo de alguém.
Faz?

Tum tum. Ouve? Batendo? Sente?
Tic tac.
Tempo. Tem que ter. Para viver.


Fernanda Aracelly

terça-feira, 11 de julho de 2017

Ainda

Ainda estou aqui
Esperando teu beijo
Aquele que só tu consegue me dar

Ainda estou esperando aquele filme
Aquele que tu prometeu
Quando olhou nos meus olhos
E sorriu
Antes de me acariciar

Ainda espero teu cumprir
Teu sorriso lerdo
Tua inteligência que me deixa tímida
Teu calor esperto
Teu olhar aberto
Tua boca fixa

Ainda espero tua mão firme
Teu jeito sublime
Tua paz

Ainda espero
E não sei até quando isso vai acontecer
Só espero que não demore muito o dia de te ver


Anna Laura Tavares

sexta-feira, 31 de março de 2017

Make it count

Às vezes, você fica sem rumo, sem chão, sem lar. Completamente perdido e sozinho. Mas, isso não significa, necessariamente, que não se possa encontrar um abrigo no meio do caminho vez ou outra.



O desafio consiste no período entre um encontro e outro. É como se, em meio ao breu completo, você tivesse que andar na corda bamba que conecta dois precipícios.



Consegue imaginar? Não se vê um polegar de distância, mas, ainda assim, tem que seguir. Pé ante pé. Desequilibrando. Com cuidado. Ativando e aguçando cada sentido que lhe resta para reunir qualquer traço de força e esperança. Afinal, é só o que resta mesmo.



É você e você. Você com você, por você e para você. Você tropeça. O coração acelera, o pé escapa, falta-lhe o ar e o corpo parece desfalecer. Toda aquela força e toda aquela esperança se esvaem. E agora? Você dá conta de sair dessa?



Talvez um milissegundo faça a diferença. De repente, quando o corpo sai de uma espécie de torpe, a mão agarra-se à corda. Ali está uma energia que não se sabe de onde, como ou por que veio, porém, aproveita-a. Com toda a insegurança e medo, entretanto, aproveita-se.



Paulatinamente, a outra mão se torna capaz de alcançar a corda também. O abdome contrai e as pernas desajeitadamente se enroscam e lhe impulsionam para frente, afinal, não é possível voltar.





Não é fácil. É um caminho sem volta que cabe somente a você percorrer e, quiçá, vencer. O que não depende de você deve ser descartado. Assim como o medo, a insegurança, a dor, a tristeza, amargura.



Aí você fica mais leve. Consegue se levantar bem devagarinho porque está exausto, mas, consegue. Então, por fim, é capaz de dizer a si mesmo que você chegou lá. Não foi fácil, mas, valeu a pena.⁠⁠⁠⁠






Anna Laura Tavares

sábado, 25 de março de 2017

Você já declarou seu amor hoje?

Você já declarou seu amor hoje?

Sei que todos falam sobre isso, que o que sentimos deve ser dito. Não apenas o amor de homem e mulher, mas o amor em geral. O amor em toda a sua forma e plenitude.
Somos apenas um ponto de luz no meio do universo. Uma gota, uma simples fagulha. Somos tão pouco diante de tanta imensidão. E mesmo com tão pouco, precisamos dizer. Precisamos falar.

Você já disse que alguém é importante para você hoje?
Você já sorriu para um desconhecido hoje?
Você ofereceu ajuda a alguém que precisa hoje?

A vida é uma fina linha. Um risco tênue. Fácil de desfazer, frágil, quebrável, apesar de acharmos, às vezes, que somos invencíveis. Não somos.
A vida é mutável. Gira, rápido. Muda de direção sem que a gente perceba. Eu sei que os dias são corridos, cansativos, difíceis. Mas pare um minuto, não vai fazer diferença na sua rotina, mas pode mudar a vida de alguém. Diga que ama. Olhe com carinho. Se faça presente, se estiver longe. Hoje.

Você já foi gentil com alguém na rua hoje?
Você já ofereceu uma palavra educada para alguém no trabalho hoje?
Você já perdoou quem errou com você hoje?

É rápido. Uma hora respira e de repente já não mais. Uma hora o coração pulsa, e em instantes, para. Não podemos deixar de ser importante para quem amamos, nem deixar gentilezas para outra hora. As pessoas vão embora. Da casa, da cidade, da vida. Por isso temos que manter pertinho quem a gente ama e cultivar boas pessoas ao nosso lado. É quando cultivamos bem o jardim, que as flores, as borboletas vêm, que a vida aparece.

Você já deu um abraço confortante hoje?
Você já ajudou alguém a se levantar hoje?

Às vezes as pessoas dormem e não acordam mais. Outras vezes elas vão e não voltam mais. Vamos deixar a porta aberta, mas vamos dar motivos para o retorno. Não vamos deixar que se adormeça para sempre.
Seja o bom dia de alguém, o sorriso que o outro precisa, ainda que você não saiba.
E ame.
Ame muito. Não deixe de amar.
Porque o amor e o bem é a nossa porta para todo e qualquer lugar.



Fernanda Aracelly

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sobre saudade

Sobre saudade que mata a alma e maltrata. Que esmaga.
Sobre saudade há muito a se sentir e pouco a se falar. Ou infinitamente a se sentir e muito a se falar.
Saudade dói.
Saudade machuca.
Saudade maltrata.
Saudade é danada.
Ela aperta o peito, sufoca os pulmões, alfineta o coração e engasga na garganta.
Saudade faz a cabeça doer, peito arder, faltar o ar e os olhos chorar.
Saudade faz falar, faz drama, faz mundo mudar. O colorido enegrece. O sorriso esmorece. Os olhos ardem. A boca treme. A garganta soluça.
Saudade é falta.
Falta pedaço, falta abraço.
Falta beijo, falta cheiro.
Saudade é sensação de nada.
De vazio.
Saudade é intraduzível. E com exatidão, indizível.
Sobre saudade é horrível sentir e doído de falar. Horrível de falar, doído sentir.
Só cura com presença.
E com abraço.
Com enlaço.
Que cola os pedaços, que separam quando a danada aparece.



Fernanda Aracelly

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Porta Aberta

Você sentir falta de algum lugar não significa, necessariamente, que sente falta das pessoas que estavam lá. É extremamente possível deixar portas abertas e espantar os fantasmas, deixá-los presos em algum lugar bem inacessível para que, caso um dia retorne, será apenas você e o lugar, como sempre foi.


Claro que nem tudo estará igual. Quando atravessamos uma porta, deixamos um pedacinho de nossa história e vivemos fora dali. Pessoas novas. Jeitos diferentes. Experiências boas e ruins. Do mesmo modo, o lugar deixado não ficou intacto, uma vez que, se não estamos lá, outros estão a modificá-lo.


E, independentemente do motivo que o levou a partir, nunca é possível saber se haverá retorno. Cada caso é singular e existem portas que devem ser trancafiadas e as chaves queimadas. Mas, também existe a possibilidade da qual estamos tratando: quando nos retiramos e podemos deixar a porta aberta.


Vez ou outra é importante ter um lugar para voltar. Seja onde for. Apesar de quem está ali. Ainda que as histórias suas e do lugar tenham lhes transformado. É essa reforma que faz tudo ser diferente.


O seu olhar muda. Estará mais maduro. Mais sábio. Menos pesado. Mais compreensível. Mais relaxado. Mais seguro. E quando atravessa a porta aberta novamente, os olhos captam o essencial ao coração, sem interferências porque você aprendeu que tudo só depende de si mesmo.


Com isso, a nova esfera em que você acabou de novamente adentrar também sintonizará de outra forma. Conquistará seu novo olhar, a nova essência tão leve que chegou ali e acolherá como nunca antes o fez. Sabe por quê? Porque ela, similarmente, foi modificada por tudo de novo que viveu.


Hoje, eu espero que você tenha deixado uma porta aberta.





Anna Laura Tavares