segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pedaços.



A boate era apenas iluminada por feixes de luzes coloridas. O som estava extremamente alto e o clima abafado, apesar dos condicionadores de ar estarem ligados.
Ela balançava os quadris no ritmo animado da música, nos lábios um sorriso enquanto olhava para as amigas que dançavam de maneira semelhante a ela. Na mão delicada havia um copo contendo em seu interior alguma bebida alcoólica, que logo fora levado à boca vermelha pintada pelo batom.

Foi de repente que sentiu um olhar lhe queimar as costas. Subitamente virou-se, encontrando a uma distância considerável com o par de olhos verdes que considerava sua perdição. De repente foi como se tudo estivesse claro, o som sumira e o clima ficara mais ameno. Ela se esqueceu de respirar. O olhar dele estava em chamas, parecia incendiá-la, porém não iria conseguir.
Ela soltou um sorriso sínico, ainda sustentando a mirada durante alguns segundos. Ele tampouco desviou. Apesar de conhecê-lo bem e saber os tipos de olhares dele, aquele estava indecifrável.
Não iria perder seu tempo.
Ela virou-se para o grupo de amigas e voltou a dançar, estourando a bolha que os envolvera tão de repente, era um efeito comum, acontecia sempre que ele a olhava nos olhos.

Não tinha mais importância. Aliás, será que teve algum dia?
Ela sacudiu a cabeça, bebendo o resto do líquido que ainda havia no copo.
Não tinha mais importância, ela repetiu para a sua cabeça.

A sensação de queimação as suas costas diminuiu e ela voltou a olhar para trás, constatando que ele não estava mais ali. Suspirou aliviada ou incômoda, ela não sabia dizer com certeza, por que todo o bom senso lhe abandonava se ele estivesse por perto.
Quem sabe não passara de uma ilusão? Ultimamente ela estava tão louca, que não duvidaria que fosse alucinação de sua cabeça.

- Hey! – uma amiga lhe chamou a atenção. – Tudo bem?
- Sim, tudo ótimo. – sorriu, voltando a se divertir.



O dia amanhecera quente. Ela levantou da cama ainda zonza e foi em direção à cozinha, desesperada por água. Ao voltar para a cama, notou que perdera o sono. Olhou a hora no celular. 11horas da manhã e logo em seguida viu que havia uma notificação de havia um e-mail. Ela abriu. Era um e-mail.
Dele.

“Sinto tua falta. Te ver é uma tortura, sabia disso? Não consigo me perdoar por ter te magoado. E ei... Você parecia feliz ontem à noite, embora eu não consiga te ver me ignorando, como foi ontem... Parece que está deixando para trás tudo o que vivemos e isso me destrói. Sinto muito, por tudo. Não deveria acabar assim... Por que somos tão complicados?
Eu queria que fosse mais fácil...”

Não fora ilusão!
Seu sangue parecia ter virado gelo dentro das veias e artérias, no estômago um incômodo se fez notar e na garganta um nó surgiu.
Tudo o que viveram outrora fora lindo, da maneira mais singela e sincera. Mas era necessário se conformar. Era inútil insistir em algo que era notável: não tinha futuro.

A resposta não demorou a ser digitada.

“Eu também queria que fosse mais fácil, mas a gente precisa se conformar que, algumas histórias por mais intensas, bonitas e sinceras que sejam, elas talvez não tenham sido feitas para darem certo. A nossa é uma dessas... é melhor deixar para lá...”

Três pontinhos. Como sempre. Nunca um ponto final. Nunca ele iria embora completamente de sua vida. E ele iria voltar. Ele sempre voltava.
E por mais que ele voltasse ela sabia bem no fundo de seu âmago que não dava certo, e por mais que ele retornasse, ele não era seu. Nem seria.

Era assim, complicado demais. Profundo demais. Algumas pessoas deixam marcas profundas em nossas vidas, ele era uma dessas pessoas na dela.
Ela o amava. Mas nem sempre o amor é suficiente!
E era certo que em cada mínimo e insignificante pedaço dela, sempre haveria um pedaço dele. 



@fernandaadf_

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Degelando o Polo Norte

Andam dizendo por aí que tenho gelo no coração. Ora, que calúnia! No máximo existe um iceberg capaz de derrubar vários titanics por aí... Não chega a ser algo horrendo como tem-se espalhado. E logo ele vem difamar-me dessa forma horrenda... Justo ele, que possui o seu navio blindado, cem por cento protegido contra icebergs, carrega consigo a audácia de se vocabular assim de minha pessoa. A principal embarcação que eu adoraria acertar, não consigo. Que triste, não é? É o romance hollywoodiano ao reverso, que não dá certo, onde um quer se aproximar e o outro parece querer fugir. Não é por maldade, é só puro e simples medo de ser feliz. Loucura, concorda? Ora, para que ter receio de se encontrar com um sorriso, um abraço, um carinho...? Conseguem enxergar que há degelo no Polo Norte? Sim, é loucura mesmo. Por um acaso alguém gostaria de viver essa catástrofe: navio X iceberg, combinação feita para afundar, para não dar certo de jeito nenhum? Para ser bastante sincera, eu adoraria. Em algum momento, esse confronto se ajeitaria e seguiria em frente. Ainda que um afundasse, o outro sofreria, se derreteria para, somente, aconchegar-se mais pertinho daquele um. E esse acontecimento percorreria o mundo como a mais bonita história que a humanidade já viu. Ok, pode até não ser a mais bela história da humanidade, mas com certeza seria um amor lembrado por muito, muito, muito tempo. É... Não possuo gelo no coraçãozinho. Ou é isso, ou o seu titanic conseguiu destruir meu iceberg. @annamoud

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Valer a pena.

E lá estaca ela, sentada em um daqueles bancos, naquela pequena pracinha.
Era um ótimo lugar para ficar sozinha e pensar no rumo que sua vida tomava. 
Era verdade que não podia reclamar das oportunidades que tinha; e que as conseqüências – boas ou ruins – vinham a partir de uma escolha.  Mas era um tanto quanto assustador quando ela se sentia daquela maneira, quase sem rumo.  
Era como não ter um chão para pisar e se sentir como se estivesse constantemente presa a um fio de esperança de que tudo iria melhorar, sabendo que, no entanto, aquele fio poderia arrebentar. 
Mas então, de repente, ela não estava mais sozinha ali.
Uma senhora de cabelos curtos e extremamente brancos como as nuvens, sentou-se ao seu lado, soltando um suspiro logo em seguida.

— Essa fase da vida não é nada fácil, não é, querida? — a mulher disse, então, trazendo a garota de volta ao mundo real.
— É... — um suspiro. — É bem complicado, sim.
— Mas não se preocupe. — a senhora lhe sorriu sincera e meigamente. — Agora tudo parece sem foco, sem nexo, mas em algum momento, tudo vai se tornar claro.
— E quando será isso? Por que agora essa clareza parece estar um tanto distante, não acha?
— E está. Ela realmente está. – o sorriso não era apagado da face cheia de marcas do tempo, ainda que nos olhos dela pairasse uma sombra cinza. Talvez lembranças. – Você vai se sentir perdida por muito tempo, em vários momentos; as dificuldades, as provações são parte da caminhada para que possa se encontrar. Por que, quando você encontrar a si mesma, tudo estará completo, tudo terá se encaixado perfeitamente.
— Então quer dizer que, com certeza, eu ainda tenho muito o que sofrer, não é?
— Sim, e sinta-se feliz por isso.
— É um tanto quanto complicado me sentir feliz por isso. — a menina riu sem humor.
— Querida, sinta-se orgulhosa dos seus sofrimentos. Por que as feridas, as cicatrizes que você levará contigo pelo resto dos seus dias será aquilo que definirá o que você é. Será aquilo que provará o quanto você é merecedora dos seus momentos de felicidade e, principalmente, do momento em que encontrará com você mesma.
— E... – a menina pensou um pouco. – A senhora já se encontrou?
— Não. – ela sorriu. – Dizem que isso acontece no ultimo segundo da nossa vida. Mas eu acredito que valerá a pena. Aliás... – ela sorriu ainda mais, e agora seus olhos ganharam um brilho incomum. – Já vale à pena, por que eu estou aqui, eu sobrevivi às tempestades e pude ver muitas vezes o sol nascer. – a menina abaixou a mirada, refletindo sobre o que ouvia. — Por isso eu digo que, com certeza, eu espero pelo momento que me encontrarei comigo mesma feliz e ansiosa. Por que não tenho duvidas de que as lutas foram em vão e nem mesmo desisti de nenhuma delas antes de tentar. – a senhora mirou a garota por um longo tempo. – Por isso, querida, mesmo em meio às dificuldades, não se deixe transbordar em duvidas em um momento que você precisará estar cheias de certezas. Faça tudo valer à pena. E principalmente faça de tudo para ser feliz, ultrapasse limites e obstáculos para que, ao se encontrar consigo mesma, possa sentir orgulho; sentir que valeu a pena.

E então, diante ao silêncio meditativo da menina e sem mais nada a ser acrescentado, a senhora se levantou, sem pressa e se foi. Esperando que, de tudo seu coração, aquela garota se sentisse tão orgulhosa de si, ao final da sua vida, quanto ela se sentia dela mesma.
Afinal, com certeza, tudo, absolutamente tudo, havia valido a pena.

@geysedmes

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma história de amor.


Quantas historias de amor poderiam ser escritas?
Quantas historias de amor foram escritas e nem sequer foram lidas?
Quantas histórias ainda devem ser vividas para, então, serem escritas?


Ela vivia das historias alheias. 
Mergulhava nos sentimentos dos outros, procurando a melhor maneira de transformá-los em palavras. E até mesmo criava sentimentos em sua mente, mesclando-os aos personagens que também, pouco a pouco, vivia dentro dela.
Mas e ela?
Ela ainda não havia vivido uma historia digna a ser escrita. Daquelas que valessem algumas lágrimas esporádicas em meio a um parágrafo ou outro; ou até mesmo o suspiro profundo do leitor ao terminar de ler.
Por que ela não queria apenas escrever por escrever.
Ela queria escrever uma historia de amor tão intensa quanto todas aquelas que ela viveu em sua mente.
Ela queria viver e escrever uma historia de amor que não fosse só dela, no fim das contas. Queria que todos se deliciassem, mergulhassem, assim como ela mergulha, ainda, nas histórias dos outros.  

@geysedmes   

sábado, 4 de maio de 2013

Ela é estranha



Quando você olha para ela consegue notar o quanto a garota é estranha.
Seus olhos estão sempre fora de foco, como se ela estivesse no mundo da lua... Ah, você também pensou isso quando a viu?
Essa garota é estranha, volto a dizer. Ela dorme quando deveria estar acordada e os olhos estão abertos quando ela deveria estar sonhando. Ela anda por ai sem pressa, apenas vivendo como se não fosse existir o amanhã. Ela também fala sozinha. Que pessoa normal fala sozinha?
Ela não se importa se não tiver ninguém ao lado dela, parece até gostar da sua própria companhia. Que pessoa normal gosta de ficar a ouvir os próprios pensamentos? Estou te dizendo, ela é estranha.
Se você cruza com ela por ai, ela pode até não te notar, porque sempre está com a cabeça em outro lugar.
E sabe, a garota é sonhadora. Sonhadora demais! Daquele tipo que os pés nunca estão no chão. E ela é calada, na dela, mas a mente... Aquela cabecinha simplesmente não para.
Ela é absurda!
Gosta de futebol, de cor-de-rosa, de brincadeiras de menino e de piruetar por aí feito uma bailarina. O gosto musical é estranho e adora assistir a filmes de terror, mas chora com qualquer romancezinho clichê. Você consegue entender essa garota? Ela é uma mistura difícil de ser decifrada!
Ela parece absurdamente romântica, daquelas que acreditam no maldito príncipe encantado, mas aí tem vezes em que ela resolve ser uma provocadora, deixando de lado qualquer imagem de menininha.
Ela é estranhamente um furacão. Arrepia a pele.
A garota é intensa, de extremos, ou é oito ou é oitenta, meio termos não existem para ela. A garota também é medrosa e confusa. Ela é estranha.
Você olha para ela e pensa que ela é daquelas que simplesmente passam. Mas não, a garota é marcante. Estranhamente marcante.
Você olha pra ela e enxerga uma menina boba, mas é impossível não se encantar depois que ela abre a boca.
Você olha pra ela e pensa que é apenas uma cabecinha de vento, que vive no mundo da lua, mas quando ela permite te dar a chance de habitar esse mundinho dela, você percebe: não há lugar melhor.

A garota é estranha, vou te dizer, é notável. Mas ela é daquelas pra sempre sabe? Inesquecível.


@fernandaadf_