A boate era apenas iluminada por feixes de luzes
coloridas. O som estava extremamente alto e o clima abafado, apesar dos
condicionadores de ar estarem ligados.
Ela balançava os quadris no ritmo animado da música, nos
lábios um sorriso enquanto olhava para as amigas que dançavam de maneira
semelhante a ela. Na mão delicada havia um copo contendo em seu interior alguma
bebida alcoólica, que logo fora levado à boca vermelha pintada pelo batom.
Foi de repente que sentiu um olhar lhe queimar as costas.
Subitamente virou-se, encontrando a uma distância considerável com o par de
olhos verdes que considerava sua perdição. De repente foi como se tudo
estivesse claro, o som sumira e o clima ficara mais ameno. Ela se esqueceu de
respirar. O olhar dele estava em chamas, parecia incendiá-la, porém não iria
conseguir.
Ela soltou um sorriso sínico, ainda sustentando a mirada
durante alguns segundos. Ele tampouco desviou. Apesar de conhecê-lo bem e saber
os tipos de olhares dele, aquele estava indecifrável.
Não iria perder seu tempo.
Ela virou-se para o grupo de amigas e voltou a dançar,
estourando a bolha que os envolvera tão de repente, era um efeito comum,
acontecia sempre que ele a olhava nos olhos.
Não tinha mais importância. Aliás, será que teve algum
dia?
Ela sacudiu a cabeça, bebendo o resto do líquido que
ainda havia no copo.
Não tinha mais importância, ela repetiu para a sua
cabeça.
A sensação de queimação as suas costas diminuiu e ela
voltou a olhar para trás, constatando que ele não estava mais ali. Suspirou
aliviada ou incômoda, ela não sabia dizer com certeza, por que todo o bom senso
lhe abandonava se ele estivesse por perto.
Quem sabe não passara de uma ilusão? Ultimamente ela
estava tão louca, que não duvidaria que fosse alucinação de sua cabeça.
- Hey! – uma amiga lhe chamou a atenção. – Tudo bem?
- Sim, tudo ótimo. – sorriu, voltando a se divertir.
O dia amanhecera quente. Ela levantou da cama ainda zonza
e foi em direção à cozinha, desesperada por água. Ao voltar para a cama, notou
que perdera o sono. Olhou a hora no celular. 11horas da manhã e logo em seguida
viu que havia uma notificação de havia um e-mail. Ela abriu. Era um e-mail.
Dele.
“Sinto tua falta. Te ver é uma tortura, sabia disso? Não
consigo me perdoar por ter te magoado. E ei... Você parecia feliz ontem à
noite, embora eu não consiga te ver me ignorando, como foi ontem... Parece que
está deixando para trás tudo o que vivemos e isso me destrói. Sinto muito, por
tudo. Não deveria acabar assim... Por que somos tão complicados?
Eu queria que fosse mais fácil...”
Não fora ilusão!
Seu sangue parecia ter virado gelo dentro das veias e
artérias, no estômago um incômodo se fez notar e na garganta um nó surgiu.
Tudo o que viveram outrora fora lindo, da maneira mais
singela e sincera. Mas era necessário se conformar. Era inútil insistir em algo
que era notável: não tinha futuro.
A resposta não demorou a ser digitada.
“Eu também queria que fosse mais fácil, mas a gente
precisa se conformar que, algumas histórias por mais intensas, bonitas e
sinceras que sejam, elas talvez não tenham sido feitas para darem certo. A
nossa é uma dessas... é melhor deixar para lá...”
Três pontinhos. Como sempre. Nunca um ponto final. Nunca
ele iria embora completamente de sua vida. E ele iria voltar. Ele sempre
voltava.
E por mais que ele voltasse ela sabia bem no fundo de seu
âmago que não dava certo, e por mais que ele retornasse, ele não era seu. Nem
seria.
Era assim, complicado demais. Profundo demais. Algumas
pessoas deixam marcas profundas em nossas vidas, ele era uma dessas pessoas na
dela.
E era certo que em cada mínimo e insignificante pedaço
dela, sempre haveria um pedaço dele.
@fernandaadf_
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