segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Dois.

Um coração que bate por outro.
Dois corações que formam um só.
É, como diz aquela velha canção “carne unha, alma gêmea, bate coração...”.
Uau! Quem diria, Gabriel apaixonado. Isso mesmo, apaixonado. É o que dizem por aí. Mas para ele ia além, na verdade... Paixão era muito pouco para descrever o que sentia por Helena. Paixão parecia um sentimento vago diante do que sentia por ela. Talvez amandonado fosse a palavra ideal, primeiro porque não existia no dicionário, e era exatamente aí que ela tornava-se perfeita, simplesmente pelo fato de que não havia definição ou explicação, só acontecia. Todavia, se existisse, seria derivada do amor, e amor era tudo o que havia dentro dele. E mais um pouco.

E como o próprio amor é uma via de mão dupla, ele vai e vem, Helena sentia o mesmo por aquele que roubara seu coração. Talvez roubar nem fosse realmente o correto, pois ela o entregara de bandeja mesmo, sem medo. Helena, que sempre ouvira que não se deve entregar o coração com tudo e tanto assim, fez tudo ao contrário, mergulhou de cabeça na profundidade de Gabriel, sem arrependimentos, por que sabia que ele não era raso, então seu mergulho não iria lhe machucar. Helena, que sempre fora observadora e pensou que nunca sentiria tudo aquilo, estava amando, e para ela não havia sensação nem sentimento mais libertador que aquele, pois o amor que sentia por Gabriel lhe dava asas, podia voar, na mesma medida que era âncora e lar, para onde ela sempre poderia voltar.

Então, estavam os dois, ali juntos, naquela invernal noite de segunda-feira, aquele dia da semana que é sempre muito lamentável, que marca o fim da semana e o início da mesma. Para fins, sempre há novos começos, então eles sempre encaravam a segunda-feira como uma nova oportunidade. Aliás, todo dia o é.
A chuva caía de maneira torrencial lá fora, mas eles pouco importavam-se. A verdade é que para Gabriel e Helena, o mundo poderia acabar do lado de fora, mas dentro deles, juntos, tudo sempre estava apenas começando. Essa era a sensação.
Abraçados, em silêncio, apenas sentindo o cheiro e ouvindo os corações baterem, além da chuva lá fora, parecia que não dava para saber onde um começava ou onde o outro terminava. Um só. Exatamente o que eram.
O dia havia sido exaustivo. Helena tivera um dia cheio no trabalho e Gabriel um dia estressado. Haviam chegado juntos em casa. E abraçados, pareciam estar recarregando as baterias, porque era exatamente assim. Há quem, em um abraço, afaste toda a sensação ruim e exaustão, há quem em um beijo recarregue e anime tudo o que estava lá embaixo, há quem em um simples olhar e um sorriso, faça qualquer tristeza desaparecer. Eles eram assim, um para o outro.

- Você quer sair para comer alguma coisa, amor? – Gabriel quis saber, quebrando a calmaria.
- Eu não. – Helena respondeu, aconchegando-se mais ao abraço. – Estou em paz aqui.
- Mas daqui a pouco sua fome de leão ataca. – ele falou, rindo, abraçando-a mais forte.
- Certo, aí podemos providenciar alguma coisa. – rebateu Helena. – Enquanto isso, eu só quero ficar aqui, assim, com você.
- Está bem, manhosinha.
- Senti sua falta o dia todo, amor. – ela murmurou. – Me deixe aproveitar enquanto tenho você agora.
- Aproveite. – ele a apertou em um abraço, do qual ela soltou um grito.
- Quer me sufocar?
- Só de amor. – ele a encarou. – Também senti sua falta, o tempo todo.

Helena só sorriu, achegando-se a ele e fechando os olhos. O carinho em seus cabelos veio como uma canção regida por um maestro, e no mundo, não havia carinho melhor que aquele. Gabriel sabia que tê-la ali, em seus braços, sempre seria seu paraíso. E é... Aquele era o paraíso particular dos dois.
A sensação era da mais pura e sincera paz.
Minutos passaram-se e nenhuma palavra Helena dissera, Gabriel estranhou, mas não foi necessário comprovar para ver o motivo, ele bem sabia.

- Boa noite, sonequinha. – sussurrou, olhando-a dormir, enquanto continuava a acariciar seus cabelos.

No fim, estarem juntos, era tudo o que importava.
E sentir que um coração batia pelo outro. Como era. Como tinha de ser.


Fernanda Aracelly

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Espelhos

Seu chão era um enorme espelho que, em certo ponto do horizonte, não se enxergava mais, igual àquele momento quando o mar de funde com o céu. Era bonito e tranquilo.


Ele ainda não sabia o porquê, mas, o chão começou a ficar instável. Cada dia mais o medo se instalava. E, de repente, precisou olhar para o chão. Vez ou outra isso acontecia, entretanto, desta vez, parecia sério. O coração gelou.


Não muito tempo depois, o espelho quebrou. Milhões de pedaços espalhados por todo canto e houve cortes profundos, feridas novas foram formadas e algumas antigas foram reabertas e toda a dor voltou.


Olhou ao redor, viu que estava sozinho, aquele seria um momento dele com ele mesma. Ainda sangrando e dolorido, respirou fundo e atentou-se para alguns detalhes: o espelho estava quebrado, porém, ainda havia alguma coisa ali embaixo. Percebeu, então, que sua base era forte, apesar de tudo.


Reparou que os machucados reabertos latejavam, todavia, era possível suportar e, com calma, dava para pensar em curativos. E, por último, olhou cada caco ao seu redor. Os antigos estavam embaçados, alguns sujos, ele não se reconhecia mais neles. O insight veio: o passado precisava ficar para trás, ainda que fosse importante saber cada passo trilhado até ali.


Vez ou outra, essa situação acontecia. Tudo cicatrizava e a vida seguia. Dessa vez, não seria diferente, seguiria adiante, no seu tempo, curando e cicatrizando cada ponto necessário. Quem quisesse, que tivesse paciência de esperar. Era o SEU mundo em crise e precisava de ajustes.


Pé ante pé, levantou e tentou dar um passo. Mirou o chão, analisou que via seu reflexo em cada placa parada sob seus pés. Cada reflexo era diferente. Cada um levava a um caminho que ninguém sabia onde dava, mas, até onde se conseguia ver, eram caminhos planos.


Tantos planos pela frente. Como saber qual dará certo? Como decidir qual seguir? Qual vai demorar mais para quebrar? Em qual ele não estará sozinho? Era impossível saber. E era inútil pensar sobre isso.


Em silêncio, fechou os olhos, cantou a antiga canção de ninar, sorriu. Demorou um pouco, mas, rodopiar às cegas não doeu tanto, o chão de espelho estava se refazendo e algumas feridas não perturbavam mais.


Ouviu seu coração. Ouviu sua razão. Tentou fazer com que os dois chegassem a um acordo e, quando conseguiu falar feito, decidiu qual plano seguir.


De vez em quando, a instabilidade voltava, ora mais fraca, ora mais forte. Às vezes havia alguém para ajudar, às vezes, ele precisava encara sozinho, como dessa vez.


No novo caminho escolhido, foi mais cauteloso e se orgulhou disso. E havia alguém. Ficou feliz por isso. E sentiu que essa pessoa (assim como poucas outras) estaria ali, mesmo que ele precisasse encarar sozinho. Decidiu ficar, livre, acima de tudo. E viu o plano ser mais leve.




Anna Laura Tavares

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Perdição

Talvez você esteja perdido
Mas, como dizem por aí, perder-se também é caminho
Pode ser que o novo dê medo
Ansiedade
Incerteza
Dúvida
O que faço aqui?
E é aí que você descobre um novo incrível que
Quem sabe
Não teria descoberto


E eu espero que a sua descoberta seja..
Como é palavra?
M a r a v i l h o s a
E que você descubra
No novo caminho
Que não está sozinho
Que sempre tem alguém contigo (eu)


Mesmo que (você) não queira
Mesmo que (você) precise
Mesmo que (você) não precise
Mesmo que (você) queria
Haverá duas mãos
Dois ombros
Um colo
Dois ouvidos
E um coração



Sempre





Anna Laura Tavares