quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Cruzadas

Com quantas pessoas você cruzou no dia de hoje? Consegue contar? E, dessas pessoas, em quantas você prestou atenção? Olhou nos olhos? Sorriu? Deu um bom dia (ou boa tarde, ou boa noite)? Apertou a mão, deu um abraço, um beijo, um aceno de cabeça que seja?




Talvez a gente só queira que os ponteiros do relógio passem para que possamos sair da escola, do trabalho, da barulheira lá fora e nos encafofar no aconchego do lar e nos aprofundar num ócio não produtivo de ficar à deriva no nosso conforto.



Nem sempre temos um belo dia e é ok nos excluirmos do meio de tanta gente e muvuca, afinal de contas, paz e sossego sempre caem bem. O perigoso nessa história é quando deixamos de dar significado às cruzadas com as quais nos deparamos.



Deixamos, pouco a pouco, o olhar se perder, o sorriso fechar, a mão ao lado do corpo (ou dentro do bolso ou segurando o celular), a cabeça com o olhar fixo para frente para que nada seja um empecilho ao longo dos passos, afinal, o tempo é mais depressa que as pernas e qualquer segundo perdido é precioso.



Uma pena que nosso caminhar seja cada vez tão mais solitário. É de dar pena ver cada adulto sem colorir o seu próprio dia ou o de alguém com um singelo mostrar de dentes que deveria se estender aos olhos (sorrir com os olhos é ainda mais bonito, acredite!). Entretanto, ainda há esperança. Ainda podemos colorir o mundo de novo.



Sorria mais. E o bastante para que seus olhos sorriam também. Afinal, os ponteiros são apressados, mas, o olhar é mais rápido – e melhor.




Anna Laura Tavares

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Caixinha de surpresas.

A vida é uma caixinha de surpresas. Pura magia.
Pode ter vários tons e sons. Tem muitos cheiros e sabores. Um dia ela é colorida, mas também pode ser cinza. Um dia faz barulho, em outro silêncio. Um dia doce, salgada ou amarga.
É magia e puro equilíbrio.
Um dia, acontece toda a mágica, a de viver. Acordar para mais um dia e vivê-lo da melhor forma possível. Abrir os olhos e estar vivo.
Um momento, você sonha, almeja, deseja, planeja. Você vive, ama, beija, abraça. Você se acha forte, capaz de qualquer coisa e que sabe de tudo. E vai deixando, muitas vezes, coisas importantes, para depois. Sabendo que tem tempo.
Mas não se sabe de nada.
A caixinha de surpresas não quer saber de planos ou desejos, ainda que tenhamos que fazê-los e isso faça parte da magia de viver. Ela se fecha quando tem que fechar. Te empurra.
Você sai da caixinha e quer voltar, nunca pensa que pode acontecer um imprevisto e ela se fechar antes do tempo e... Acabou! Não dá mais. Surpresa!
É de repente que tudo pode se perder. Como na mágica que a vida acontece, abrir os olhos e fazer tudo o que se quer, ela também pode acabar. Sem data prevista, hora marcada, lugar proposto, simplesmente sem saber.
O que antes era certeza, vira ponto de interrogação. Como? Porque? Onde? Como assim?
O que antes era sonho, se perde no tempo, como poeira que o vento leva. Vira interrupção.
O que resta é o sentimento vazio. O sorriso que nunca se apaga. As lembranças guardadas. A voz que não fala, mas não cala.
Resta tudo. E também não resta nada.
Porque a vida é uma caixinha de surpresas mágica, mas também é muito frágil. A vida é uma caixinha de surpresas imprevisível. Ame hoje, fale agora, demonstre de imediato. Não deixe para depois. Um dia você pensa que sabe o que vai tirar de dentro da caixinha, que tem tempo, e então ela te surpreende, mostrando que não é de certeza que ela é composta. Muito pelo contrário. Sabemos que estamos aqui hoje. Agora. Mas e amanhã? E daqui a pouco? Aonde?


Fernanda Aracelly

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Você é um elfo?

Você pode sentir medo sim. Você pode ter medo sim. E não há nada de errado com isso. E não é nada feio ter medo. Não é ridículo ser medroso. Ou frouxo. Ou coxinha. Ou amarelão. Você não é fraco por ter esse sentimento.




Você pode ser o melhor escritor e ter aquela insegurança com o seu novo texto. Ter as melhores notas da sala e sentir aquela ponta de tristeza por não ir bem em uma prova. Desejar de todo coração jamais ficar preso em um elevador ou ver o palhaço no circo. E sabe por que você pode ter, ser e sentir tudo isso? Porque talvez você seja um elfo.



Acalme-se, já explico! Esses seres especiais são tidos como belos e luminosos. E quando se tem medo, você irradia para mundo ao seu redor uma luz incrível porque necessita de todo o cuidado, precisão, força e coragem para entender e analisar cada espaço que possa ser ameaçador e evitar o desencadear de uma sensação que, ok, confesso, não é prazerosa.




Quando se é um ser belo e luminoso, todos podem enxergar a luz que vem de dentro de você. Os outros são capazes de enxergar o seu interior e ver o quão bom e natural você é, afinal, é na bela natureza em que os elfos vivem. Quando se é um ser belo e luminoso, seus raios são fatais para aqueles que vivem na escuridão e estão a postos para, de alguma forma, sugar sua luz, não para que eles brilhem, mas, para que você não brilhe mais.


Então, veja que o medo é uma grande chave para a luminosidade. Para o cuidado. A precaução. A coragem. É preciso ter medo para ter de enfrentá-lo e a cada noca batalha vencida, um raio é acrescido. E quanto mais raios, mais luz. E quanto mais luz, mais vida. E aí eu te pergunto: você é um elfo?





Anna Laura Tavares

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Pode demonstrar sim!

Pode demonstrar sim!
Pode responder no mesmo minuto, mandar áudios longos e falar que está doendo de saudade.
Pode demonstrar sim! Quem falou que não?
Pode falar o que sente e ser furacão.
Demonstra! Porque não?
É só assim que vem a reciprocidade.
Pode se apegar sim. Sem medo nem receios. Sem vestir a máscara do desapego só porque está na moda. Moda passa, o que é verdadeiro fica. Pode demonstrar sim, senhor.
É sentimento, e não batalha naval. Não é jogo. E assim, as duas partes ganham. Sem empate e saindo do lugar.
Pode demonstrar sim. Onde está escrito que não?
No mundo dos sentimentos não tem manual para seguir. E quem dita as regras e a intensidade, é o coração.


Fernanda Aracelly

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Bicho Papão.


   Um monstro com duas cabeças corria atrás de mim, depressa, soltando fogo pela boca... Eu tentava me afastar, mas percebi que minhas pernas não funcionavam. No momento em que ele estava prestes a me atingir, acordei, soltando um grito.
    Quis chorar, mas sabia que mamãe logo viria me ver. Não precisava ter medo.
    Só que ela não veio.
    Enfiei a cabeça debaixo das cobertas, por que o quarto estava todo escuro e só pensava nos bichos e dragões, e em todo aquele fogo.
    Não consegui ficar lá sozinha, pulei a muralha de ursos de pelúcia que tinha ao redor da cama e fui direto pro quarto dos meus pais.
    Eles iriam me proteger dos bichos feios e poderia sonhar com várias fadinhas coloridas!
    Mas antes de bater na porta, escutei alguns gritos. Só não entendi porque gritar, se estava tudo tão silencioso, e nem o Toddynho, nosso cachorrinho, estava latindo naquela hora!
    — E o que pensa de mim, afinal? Não sou esse tipo de homem!
    — Não é o que vem parecendo ultimamente. Então, repito, pode ir embora, é livre pra isso.
    — E o quê? Deixar Analú pra trás? Caramba! Além de ser um péssimo marido, nem imagino como deve me classificar como pai, hein?
    — Não diga besteiras, Diogo! — Mamãe chamou papai pelo nome, e não por “meu bem”, como sempre faz. Acho que... Será que aquela era uma briga como as que a Lari disse que os pais dela tinham, quase todos os dias? — Não te reconheço mais. Vive para o trabalho, como se isso fosse o mais importante na vida!
    — E é, Eduarda! Nesse momento é! Preciso dar o melhor para você e Analú, não entende isso? Desde que casamos, assim que você engravidou, temos lutado tanto! Não tivemos nem tempo nos encaixar na nossa própria vida a dois e agora que tudo melhorou, temos que lutar para manter isso!
    Ouvi mamãe chorar, depois papai suspirou, só que nenhum dos dois falou mais nada.
    Estava assustada com os gritos, mas o silêncio me fez ter muito mais medo.
    A fechadura da porta rodou e tive que sair correndo pro meu quarto. De lá escutei os passos pela casa, depois o barulho da porta se fechando.
    Meu coração apertou assim que ouvi o motor do carro do papai. Pelo jeito ele nem havia pego o casaco antes de sair.
    Como ia aguentar o frio lá fora?
    Não consegui entender. Se estavam bravos um com o outro, não me importaria em deixar a mamãe dormir comigo naquela noite... Só acho que papai não precisava ter ido embora.
    Mas e... se ele nunca mais voltar? A Regina, uma colega da minha sala, me disse que o pai dela saiu de casa e até se casou com outra mulher depois.
   E se, enquanto estivesse fora de casa, o papai encontrasse outra esposa? Ou até outra filha?
    Os monstros do meu pesadelo já não me davam medo, mas escutar o choro da mamãe do outro lado da parede me fez abraçar forte o José, meu elefante de pelúcia preferido.

    Acordei assustada ao ouvir o barulho da mamãe abrindo a janela do meu quarto.
    — Bom dia, amor! — me sorriu, tirando a coberta de cima de mim. — Vamos levantar? Tenho que te levar na natação e depois terminar a encomenda de um bolo para o almoço.
    Fui pra cozinha ainda sonolenta, mas logo o cheiro de bolo e do leite quente com Nescau me despertou magicamente.
    E então percebi que a cadeira onde papai sentava sempre para o café da manhã estava vazia. Ele não voltou pra casa?
    — Cadê o papai?
    — Saiu mais cedo pro trabalho hoje, querida.
    Senti raiva, porque se fosse adulta ia poder dizer que sabia que mamãe mentia, sem que ela tentasse me desconversar de novo.
    Mesmo contrariada, tomei café e depois mamãe me deixou na natação, voltando pra casa para terminar o tal bolo. Mais tarde, enquanto mamãe preparava o almoço, tomei banho e assisti desenhos animados.
    Mas na verdade, sempre que passavam na frente de casa ou mamãe fazia algum barulho diferente na cozinha, olhava para a porta da sala, pensando ser o papai.
    Depois ajudei mamãe e por a mesa, mesmo contrariada. Queria ficar de olho, caso ele aparecesse.
    Quando voltei para a cozinha, já com o prato servido, papai acabava de deixar sua pasta no sofá. Corri, abraçando suas pernas bem forte.
    — Que bom que voltou, papai!
   Nos sentamos à mesa para almoçar, só que muita coisa estava diferente.
   Nem o papai nem a mamãe pareciam muito animados em conversar. O que piorou quando papai deixou o prato de lado, sem ter comido tudo.
    Mamãe bufou, parecendo irritada: — O que foi? A comida não está boa?
    — Eduarda — de novo aquilo de chamar pelo nome. — estou sem fome e com pressa.
    — Está bem. Mas espero que esteja lembrando que hoje você quem leva Analú na escola!
    — Não posso. Tenho audiência no fórum daqui quarenta minutos.
    — E eu preciso terminar uma encomenda para agora à tarde!
    E então aqueles gritos começaram de novo. E eles nem se importaram com o fato de eu estar ali perto, vendo tudo.
    Foi ruim ver papai chegar e nem cumprimentar a mamãe com um selinho, como sempre fazia; além da conversa que tínhamos durante o almoço, onde eu sempre podia contar sobre o que aprendi na natação, mas que não aconteceu do mesmo jeito hoje.
    Ouvir os gritos doeu muito mais do que tudo isso junto.
    Pedi pra parar com a briga umas duas vezes, mas não me escutaram.
    Então saí correndo pro meu quarto e deitei na cama, abraçando o José. Não queria ouvir mais nada!
    Foi aí que vi o porquinho em cima da minha mesa de cabeceira e tive uma ideia!
    Peguei o cofre e voltei para a cozinha, onde mamãe já estava de costas pro papai, como se pudesse ignorá-lo enquanto ele continuava gritando.
    — Parem de brigar, por favor! — falei mais alto, o que funcionou, porque os dois enfim me olharam. — Aqui, ó! — aproximei deles, entregando o porquinho pro papai. — Pode ficar com ele pra vocês.
    — Meu bem, isso é seu, porque está nos dando? — papai se abaixou pra ficar do meu tamanho.
    — Se as brigas forem por causa do trabalho e de dinheiro, dou as moedinhas. Aí não vão precisar trabalhar muito por um tempo e nem vão mais brigar.
    — Filha... — mamãe se aproximou de nós, já chorando.
    — Parem de brigar, por favor. Não quero que o papai vá embora de novo. E nem que arrume outra esposa ou filha por ai...
    Os dois só se olharam, depois me abraçaram forte, enquanto mamãe ainda chorava baixinho.
    Eles recusaram meu cofrinho e então achei que voltariam a brigar. 
    Mas isso não aconteceu. Acho que, no fim das contas, minha ideia havia funcionado.
    E eu ainda tinha minhas moedas.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Com muito amor, Paulo

Camila tinha certeza de que a felicidade era algo que irradiava de si, somente por saber que ele existia e que, principalmente, era dela. A sua sensação era de que não haveria luz se não o tivesse. Sentia que cada pedacinho dele lhe completava da maneira mais sublime que duas pessoas poderiam se transbordar.
Às vezes ela pensava que iria explodir de tanto amor que sentia, porque era algo que lhe preenchia da forma mais pura que poderia existir.
Às vezes ela queria sair por aí falando a todo mundo o quanto ele fazia sorrir e que ele, somente ele, era dono dos seus mais sinceros sorrisos.
A base era a sinceridade, tanto dos sentimentos compartilhados quanto dos mais simples olhares que dedicavam um para o outro.

Era o tipo de cara que chegou em sua vida, como dizem por aí, chegando. Sem pedir licença abriu as portas e invadiu seu coração, e foi ali que ficou, como era seu lugar de direito. A fez enxergar além, sorrir diariamente e fragilizar seus muros, apenas para que ela encontrasse um mundo de cores lá fora. Ele não tinha noção dos efeitos que lhe causava, eram sempre arrebatadores e imensamente indescritíveis. Era o tipo de cara que a fez querer sempre dar mais um passo. Ele era o responsável por tudo. Sorria e seu mundo coloria. A olhava e tudo se iluminava. A beijava e a felicidade nunca parecia ter fim.

Foi acordando num daqueles dias em que mesmo que a chuva caísse lá fora, ela estava feliz, porque simplesmente ele estava ao seu lado e ainda que o sol não houvesse aparecido, Camila sabia que estava lá, porque simplesmente ele estava. Sorriu, vendo-o no mais profundo sono, sorriu porque o cheiro dele era o de sua felicidade, sorriu porque simplesmente era ele. E ela não queria que fosse mais ninguém.

- Que sorriso lindo! – ele disse com sua voz rouca.
- Você nem abriu os olhos. – ela soltou, numa risadinha.
- Mas eu simplesmente sei. – respondeu, finalmente a encarando depois de abrir os olhos. – Bom dia, baby.
- Bom dia, amor! – ela sussurrou, aconchegando-se ao lado dele. – Sonhei com você!
- Eu estive aqui a noite inteira, seu sonho foi real.
- E incrível! – ela completou, voltando a olhá-lo. – Preciso tomar banho se não vou me atrasar. Mas não quero.
- Me conte uma novidade. – ele riu, apertando seu nariz. – Vai logo, que está chovendo e sua preguiça é maior nesses dias.
- Chato. – resmungou, levantando-se.

O coração estava acelerado, é claro. Estar ao lado dele sempre lhe causava esse tipo de sensação. Havia um par de anos que estavam juntos naquele relacionamento que acendia cada parte dela.
Coçava os olhos quando entrou no banheiro e viu o chão um pouco molhado.

- Você acordou mais cedo, amor? – perguntou, gritando de lá de dentro.
- Pode ser que sim. – ele disse de volta, no mesmo tom.
- Nem para secar o chão, seu bagunceiro!
- Desculpa, amor! – ele respondeu, e ela podia ouvir em sua voz o sorriso que tanto amava.

Suspirou e olhou-se no espelho que havia acima da pia.
O coração perdeu a batida por alguns instantes e o sorriso ficou imenso em seus lábios, pintando a felicidade que nunca acabava dentro de sim. E ele quem lhe dizia que era sempre o surpreendido... Não se dava conta de que surpreendia muito mais?
Já havia visto coisas daquele tipo na internet, mas daquela forma? Nunca. Simplesmente por que era ele. E realmente, não poderia ser mais ninguém.

No espelho, escrito de batom vermelho, estava a frase que fez o coração de Camila aquecer e como se todas as suas certezas estivessem ainda mais corretas.

“Querida Camila,

Você quer se casar comigo?

Com muito amor,
Paulo.”


Era uma imitação dos bilhetes que ela sempre lhe deixava antes de ir trabalhar e ele ainda estava dormindo, porque entrava no serviço pouco mais tarde. Sorriu, porque ele era incrível e o caminho que ele encontrou no labirinto dentro dela não havia volta, era só ele quem conhecia e ela não queria que mais ninguém tivesse tal conhecimento.

Incrível era ver como cada parte dela pertencia a ele.
Incrível era saber que ele e somente ele acelerava seu coração.
Incrível era que aquele sonho diário era realmente sua realidade.

Tomou seu banho quente sorrindo sem parar. Enrolou-se em uma toalha que estava ali no banheiro e quando saiu, notou que Paulo voltara a dormir. Trocou-se rapidamente, pois sabia que estaria atrasada se não o fizesse e no fim, escreveu seu bilhete, mas o conteúdo daquele era muito mais importante e significativo.

Não havia como não dizê-lo nada além de:

“Como se eu fosse querer ser de mais alguém que não fosse você. Sabe que meu coração é todo seu e não há como minha resposta ser outra além de um grande SIM.

Com muito mais amor,
Camila.”



Fernanda Aracelly

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Como aqueles amores.


    Um dia disseram a ela sobre os amores que ela viveria. Aqueles tipos que, de tão intensos, seriam serenos. Lhe falaram também que, no entanto, esses tipos de amores são os mais propícios a resultarem em um coração destroçado, quebrado.
    Ela não acreditou, todavia.
    Até que sentiu. Mas não se importou com tudo o que haviam lhe dito. Por que se viver significava amar e sofrer… ela se jogaria, se entregaria. E não se arrependeria.
    Preferia ter dores como as medalhas que um soldado vindo da guerra, ao que viver sem ter a chance de amar.
    Ah, pobre menina... Eles lhe diziam. Chamavam-na de inocente. Mal sabendo eles que eram os maiores culpados de sua própria infelicidade.
    Pois eles preferiram julgá-la a viverem suas batalhas, encontrar seus amores.
    Ah, coitados. Ela pensava.
    Gostava de pensar que tentara avisá-los, da mesma forma com que fizeram com ela. Só não tinha certeza se, ao contrário dela, abririam o coração para os sentimentos.
    No fundo eram todos soldados entregues à guerra.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Leve

Os raios de sol alcançavam a praça pública de verão, queimando a pele estupidamente branca dele e conferindo um bronzeado à pele morena dela. Ele pediu para a mãe passar protetor no rosto que estava ardendo e pegou a bicicleta ainda com rodinhas para percorrer incríveis 200 metros – que era o permitido pelos pais.



Por volta do metro 100, os olhinhos perspicazes de um grande rapaz de 5 anos avistou a menina que parecia ter a sua idade. Ela estava rindo tanto que colocava as mãos miúdas sobre a barriga que começava a doer. Ele parou a bicicleta ao lado dela e desceu.


- Olha! – ela disse e apontou para o céu, logo em seguida, deitou na grama, perto do chafariz.



Ele a imitou. Viu que uma nuvem em formato de peixe estava numa posição na qual parecia que sua boca soltava a água do chafariz e vários outros peixinhos-nuvens ficavam nessa água. Começou a gargalhar também.



Logo, a risada dos dois contagiou outras crianças que se deitavam para ver os peixinhos no céu. E nenhum adulto entendia o que estava acontecendo. E a maioria deles também não quis entender, mas, milagrosamente, nenhum quis tirar a sua criança dali.




Era lindo de se ver tantos pequenos reunidos e gargalhando. Aquele riso que só de passar perto, contagia. Aquela inocência de brincar olhando o formato das nuvens. Já pensou se o olhar para o coração das pessoas também contagiasse?










Anna Laura Tavares

domingo, 13 de novembro de 2016

Pequenos-Grandes momentos.


    Vivemos aguardando por um momento extraordinário em nossas vidas.
    Um primeiro amor; uma viagem inesquecível; um encontro entre amigos regado à gargalhadas; saborear uma comida exótica e, estranhamente, gostar; aprender um novo ofício; relembrar um momento divertido da infância.
    Passamos toda a nossa vida procurando aquele sentimento que surgirá de dentro para fora, explodindo. Mas esquecemos, com uma frequência maior do que deveria ser permitido, que as melhores coisas também podem vir de fora para dentro.
    O que nos falta é a sensibilidade e o coração aberto para perceber: grandes podem se tornar os pequenos momentos.

Geyse Ribeiro

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Chuva

A chuva fraca batia na janela em plena tarde de inverno. O dia amanheceu cinza e frio, preguiçoso com cara de domingo do jeito que ele gostava – ainda que fosse uma quarta-feira qualquer.


Através do vidro transparente emoldurado pela madeira branca, ele via o sorriso dela. Os cabelos cacheadinhos que caíam despretensiosamente sobre a cintura na medida em que o sorriso se alargava enquanto os pés rodopiavam sem música no meio do quintal. Ele sentia falta disso.
Saudade era uma coisa complicada. Ele mandou uma mensagem às 14:19 chamando-a para um café. Naquele café pequeno, desconhecido e aconchegante dos dois. Ela não respondeu.



Por volta das 20:37, colocou o casaco, a touca de lã, os óculos de grau com hastes pretas e saiu pela pequena cidade. Sentia falta dela ao seu lado para brincar de soprar no frio só para ver a fumacinha que saía da boca. Sentia falta do riso exagerado quando ele tropeçava na calçada. Sentia falta de colocá-la entre suas pernas e abraçar o corpo pequeno comparado ao dele, sentindo o cheiro de lavanda do cabelo.


A nostalgia acelerou o coração quando adentrou o café – sozinho. Era a primeira vez que enxergava o lugar com os olhos dele e não com os dela. Notou que a decoração vitoriana era bela, mas, não exatamente excepcional como antes. A menina que servia o cappuccino era linda, mas, não chegava aos pés dela. O frio era estarrecedor, mas, suportável sem o corpo dela.



Todavia, a maior percepção que ele tivera naquele instante era a de que ela havia ido embora. Talvez – e tomara que – para sempre. Ele sentia muita falta dela, bem verdade, e provavelmente estaria melhor assim. Porque assim, ele percebia que se ela partiu, é porque um dia chegou, e isso seria motivo suficiente para agradecer.




Anna Laura Tavares

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Amor é.

- Não sei o que ainda estamos fazendo juntos! – as palavras soaram cruéis no momento da raiva.

Se você for parar para pensar, no momento da raiva, é quando mais falamos sem pensar. E, nesses momentos, é quando mais magoamos a quem amamos. Porque uma coisa é certa: não dá para voltar atrás com palavras. E elas machucam quando ditas de maneira errada.

Joaquim respirou fundo, sentindo o golpe das palavras proferidas por Anna. Doía mais por ela ser sua amada. Doía ouvir aquilo dela.
Anna respirava com dificuldade. Estava sufocando lentamente. Não que sentisse o que disse a Joaquim, o problema era que naquela hora a raiva possuía seu corpo e pensamentos, e em momentos assim, a tendência é agir sem pensar.
Ambos se encaravam naquele instante. Ela o olhava sabendo que o havia magoado com suas palavras. E ele ainda a encarava, sem crer no que ela falara.

- Tá fazendo o que comigo ainda, então? Se nem sabe! Melhor separar de uma vez.
- Ah, Joaquim, eu não queria...
- Mas falou, Anna. – ele disse. – Estou te odiando nesse momento. Acho melhor não falarmos mais nada.

E, assim, ele saiu da sala. Deixando as palavras soltas, as pontas desamarradas, a briga sem desfecho e dois corações aos pedaços. Anna sentou-se no chão frio e tentou respirar, àquela altura, nem lembrava mais o motivo da briga, só conseguia lembrar o fato de que estavam magoando um ao outro. E amor não deveria ser assim, deveria? Amor não deveria magoar.
O problema é que amor não magoa. As pessoas sim. A culpa não é do sentimento pai de todos. A culpa é de quem sente.
Ela dissera que não sabia se deviam estar juntos.
Ele a odiava naquele momento.
Palavras duras. E que em nada condiziam com o que pregam sobre amor.

Mas amor vai além. Amor também é dificuldade, e saber enfrentar. Amor não é esquecer, é saber perdoar, ainda que magoe. Amor não é sempre um mar de rosas e ele se fortalece quando há tribulações e tempestades.

O silêncio era ensurdecedor. Joaquim em um canto. Anna em outro. Nenhuma palavra era dita. E era irônico que a falta delas também magoasse.

Bateu 23hrs. E o sono veio junto. Em sintonia, ambos foram para o quarto.
Ainda em silêncio. Sem se encarar.
Anna banhou-se. Joaquim escovou os dentes.
Silêncio.
Anna trocou de roupa. Joaquim lavou o rosto. Anna deitou-se. Joaquim entrou no quarto.
Silêncio.
Anna fechou os olhos. Joaquim deitou ao seu lado.
Palavras.

- Eu acho que não sei o que fazer sem você.
- Anna, por favor, não.
- Tudo bem! – ela sussurrou, e tentou arrastar-se para perto dele. – Entendo que esteja me odiando. Eu estou me odiando. Mas... Não vamos dormir brigados. Amanhã a gente continua brigados, mas agora só quero dormir apaixonada. E com o amor da minha vida.

Ela não ouviu uma resposta em palavras, mas sentiu o abraço logo em seguida e sentou-se aliviada. O abraçou de volta com mais força e relaxou.

- Eu não estou odiando você. – ele sussurrou.

Amor também é isso: ceder. É não deixar o orgulho falar mais alto. É amar, acima de tudo.


Fernanda Aracelly

domingo, 6 de novembro de 2016

Luz

⁠⁠⁠Todos já tiveram o pensamento de que algum dia viveu nas trevas e só percebeu isso quando tudo ficou iluminado. Pelo menos uma vez na vida, já tiveram que tatear as paredes para sair do quarto e chegar à cozinha com segurança porque não queriam acender a luz.



Acontece que nem todos têm a oportunidade de acender a luz, seja porque já nasceram assim ou porque aconteceu de desligarem o interruptor permanentemente. Já parou para pensar como é estar todos os dias no quarto escuro?


Você começa com medo. Mas, consegue evoluir para um conforto aceitável (porque na verdade, nunca será muito agradável) porque simplesmente tem que ser assim: sobrevivência.



Entretanto, os demais não sabem o quão super heróis esses seletos indivíduos são, pelo maravilhoso fato de poderem enxergar com o coração. Tudo ao redor está no completo breu e ninguém repara que o toque é um tipo de olhar. O cheiro consegue te fazer ver a alma de outro ângulo. A audição lhe oferece a visão sobre aquilo que o peito carrega e talvez se queira esconder. O paladar consegue oferecer o treino para conseguir aguçar que as outras visões sejam detalhistas.



Percebe que não são eles que estão nas trevas? Consegue – olha que engraçado – enxergar como o mundo é tão maior que cores e formas? É capaz de afirmar que consegue ver com o corpo inteiro? Porque nem só de olhos vive o homem.




Anna Laura Tavares

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Sobre abraço.


- Eu te amo. – a voz soou baixa, quase inaudível, mas tinha uma força imensa, pois vinha do fundo do seu coração. Ele não ouvira, estava dormindo.

E apesar do tom baixo, o sussurro se sobressaiu à calmaria daquele momento. Um suspiro logo após foi o que ouviu. E então o aperto em volta do seu corpo se tornou mais forte, enquanto alisava de maneira suave os braços que lhe envolviam.

Lana achava que no mundo não existia nenhum abraço mais aconchegante que o dele. Não era daqueles que se esbarram e mal se tocam. Não era daqueles que são rápidos e sem emoção. Os dele eram abraços enlaçados, quentes e transbordantes. Longos, sinceros e cheios de saudade, mesmo que ainda ontem tivessem se visto e se abraçado. E principalmente, quando vinham acompanhados de beijinhos, era que se tornavam ainda mais completos.
Lana era fã de abraços, ainda que fosse uma pessoa um pouco fechada. Lana era fã dos abraços de Henry, principalmente. Era seu lugar no mundo. E se braços podiam ser lar, os dele eram o seu. E o cheiro... O cheiro inconfundível e que lhe fazia sentir-se em casa. O cheiro que lembrava amor e aconchego.
Era a combinação perfeita o abraço apertado e o cheiro bom. Fechou os olhos, desejando que aquilo pudesse se repetir amanhã, depois e para sempre.
Paz.
Ponto de equilíbrio.
Amor.
Tudo junto!

- Seria absurdo dizer que você é tudo na minha vida? – a voz de Henry tomou conta da calmaria que envolvia aquele momento.
- Não quando você também é tudo na minha. – ela murmurou de volta. – Te acordei?
- Não! Não se preocupe. Você não deveria estar dormindo?
- Perdi o sono. – respondeu o encarando e ganhando um beijo na testa. O aperto do abraço não havia cessado.
- Algo aconteceu? – a preocupação tomou conta dos olhos dele.
- Não. – aconchegou-se mais a ele. – Não se preocupe.
- Então volte a dormir, menininha. – alisou seu ombro nu, beijando sua bochecha. – E estarei aqui se acordar outra vez. Estarei aqui sempre. Sabe disso, não sabe?
- Eu sei sim! – afirmou, fechando os olhos.

Não dormiu imediatamente, ficou curtindo a sensação incrível que era estar no abraço dele. Ele apertou com mais força, beijou sua cabeça.

- Eu também amo você. – o sussurro veio logo em seguida.

Lana sorriu, ainda de olhos fechados, sabendo que ele havia ouvido sua declaração momentos atrás.

- Você estava acordado. – ela disse, ainda sem abrir os olhos.
- Vai dormir, Lana.
- Eu realmente amo você. – disse, antes de finalmente apagar e saber que realmente estava no melhor lugar do mundo.


Fernanda Aracelly

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Seja Só.


    O que sei sobre o amor está resumido ao que li nos livros ou o que descrevem nos filmes. Um tipo de sentimento idealizado, pelo que me dizem, bem diferente do que realmente se é. Mas, não, não será sobre o amor a nossa pauta de hoje.
    A solidão talvez seja um assunto tão comum quanto, mas dele direi com algum conhecimento de causa! E não pense que essas palavras terão um teor tristonho... Bem, na verdade isso vai depender do olhar de quem as ler.
    Pois afinal, nunca se está só. Acredite! A solidão também é uma companhia. Nunca percebeu isso?
    Vou lhe explicar meu raciocínio: estamos sempre sendo obrigados a entreter alguém. Ser companhia para o outro. Amá-lo, consolá-lo, incentivá-lo... E no fim, por algum motivo, as vezes acabamos nos esquecendo de ser, principalmente, companhia para nós próprios. Nos conhecendo de forma tão intensa quanto desejamos conhecer aos outros. Como um lembrete de que devemos pensar um pouco mais na gente. Colocar em prática as ideias para aquela viagem que estamos programando há meses. Ir ao novo restaurante que abriu na cidade. Assistir àquela série durante um dia chuvoso. Ouvir dez vezes seguidas a sua música preferida.
    Pode ser um pouco clichê o que irei dizer, mas pelo menos para mim isso é uma verdade absoluta: como ser uma boa companhia para o outro, se não se sabe ser companhia para nós mesmos?! Pelo menos uma vez na vida, tente, por um bem a sua saúde física e mental, não apenes estar só.
    Mas, a cima de tudo, ser só.

domingo, 30 de outubro de 2016

Agora.


O céu alaranjado a sua frente fez os olhos encherem de lágrimas. Lembrou-se dele. De sua vitalidade, força e sorriso. Lembrou-se do abraço, do aconchego e do encaixe.
Se apaixonou como quem cai num sono: suave. De repente. Sem perceber.
Ele estava sempre consigo. Então quando percebeu o que sentia, o medo de estragar tudo lhe dominou. E a cegou.
Sufocou o sentimento.
Guardou dentro de si, trancado a sete chaves.
E ele continuava lá ao seu lado. Sempre estava.
Construiu o mundo ao lado dele. Pintou céus com as mais incríveis cores da aquarela. Fez seu mundo, o mundo dele. O mundo dele, o seu. Sorriu, chorou, acalmou. Ouviu, falou, aconselhou. Sempre amigos. Sempre companheiros. O coração disparava a cada aproximação, o sentimento guardado, além da amizade, queria sair. Explodir. Gritar. Mas o reprimiu.
E se ele se afastasse? Se risse? Não suportava nem a ideia.
Sufocou. Nunca disse.
Aceitava tê-lo em qualquer posição. Só não queria perdê-lo.
Mas perdeu.
Ele lhe foi arrancado. Uma estrada e uma moto. Foi o suficiente. Partiu. Sem despedidas, sem aviso, sem consolo. Sem volta.
O coração aperta toda vez que lembra. Se tivesse dito. Se tivesse mostrado. Se tivesse deixado levar. Se não tivesse deixado o medo ser maior. Se. Teria sido diferente?
Não sabia. Não dava mais para saber.
O tempo não voltava mais.

Sufocou o choro repleto de palavras que nunca falou. De sentimentos que nunca mostrou. Dos rótulos e do medo que foram maiores.

Pegou uma caneta em sua bolsa bagunçada e escreveu no jornal jogado ao seu lado no banco onde estava sentada. Esperava que alguém fosse ler. Esperava que chegasse a alguém e esse mesmo alguém não cometesse os mesmos erros. Esperava fazer alguma diferença.

"Você já disse a alguém que ama, o que sente, hoje? Já disse o eu te amo? Não perca tempo."

Aprendeu que não tinha tanto tempo. Aprendeu que a vida é fugaz. E que tudo pode desaparecer... De repente.


Fernanda Aracelly

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Injustiça

É de tamanha deselegância e injustiça que seu belo par de olhos verdes vaguem por aí como se brincassem na beira do abismo. Cada direção que ousa passar pelo seu foco é brutalmente destruída e ferozmente atraída por eles.



Quando seus lindos olhos resolveram mirar a vida, faltou fôlego para a humanidade compreender o que é viver. É provável que até hoje ninguém tenha tido a grande sacada que esse encontro teve, mas, inegavelmente, foi paralisante.



Você não tem a menor noção disso, não é? Do quanto a sua vivacidade nos chama para viver também, andar na linha mais perigosa do abismo para aprender a ter cuidado e que o medo só é bom até o momento em que não lhe impede de seguir.


Você deveria saber que, sem querer, nos ensina a olhar cada situação que nos acontece como se fossemos Pollyannas, mas, não tão inocentes assim. Você mostra que a estrada é estreita e longa, vai dar insegurança de vez em quando, mas, dá pra ter perseverança. Você não imagina que consegue fazer com que todos entendam: por mais estreita que a estrada seja, nunca é tão estrita a ponto de não caber outra pessoa. Que não é feio reconhecer o erro e é necessário pedir ajuda pra não cair. Que a mão estendida pode ser daqueles que menos esperamos que estendam e, além disso, a decepção de perceber aqueles amigos que não ajudaram vai passar e tudo bem. Vida que segue.



Você pode dizer que com seus vinte e poucos anos ainda não sabe nada da vida. E que o mundo está louco por enxergar sabedoria em alguém tão cliché. Entretanto, todo cliché tem seu lado professor. E que cada mestre tenha olhos verdes tão lindos quanto os seus.


Anna Laura Tavares

domingo, 23 de outubro de 2016

Ajuda

Os olhos dela estampavam um pedido de ajuda, de maneira não tão casual assim, afinal, ela queria que ele a ajudasse a matar a saudade longo do tempo que ficaram sem se ver.

O painel do aeroporto acusava que o avião já havia pousado. Cada minuto agora seria crucial, não poderia desgrudar os olhos nenhum instante sequer porque facilmente o perderia de vista naquela sala de espera lotada. Cada vez que a porta automática se abria, o coração acelerava, a boca ficava seca e os pés se preparavam, como se fosse alçar voo.


Assim que terminou de colocar as luvas nas mãos (afinal, o inverno de Moscou era bastante intenso), as portas resolveram se abrir e por elas passava alguém de cabelos castanhos e cacheados, um sorriso que iluminava e agitava a madrugada silenciosa, os olhos que não hesitaram em olhar diretamente para ela, como se não houvesse nenhuma pessoa ao redor. Parecia que tudo estava em câmera lenta, cada passo rumo ao outro era dado com firmeza, como que para verificar se tudo aquilo era real.


E era. Quando os corpos carregados de roupas grossas apertaram-se um contra o outro, ninguém mais duvidou que aquilo era real. Era sincero. Era bonito. Ele tirou uma flor murcha do bolso, entregando a ela com uma cara de ''desculpe, foi o que deu pra fazer''. Mas, era a flor do deserto que ele prometera. Sorriram. Beijaram-se. Correram para o táxi e chegaram ao hotel.


Ele deixou as malas no closet, junto as dela. Retirou a touca de lã que cobria os cabelos cacheados e acobreados que batiam pouco acima do ombro. Retirou a flor da orelha direita. Beijou-lhe uma bochecha e passou o polegar na outra. De olhos fechados, ela retirou dos ouvidos o headphone roxo que ele adorava, tateou o rosto até conseguir retirar os óculos de hastes firmes e marrons.


Toque após toque, sorriso após sorriso, olhar após olhar, tropeço após tropeço até chegarem à cama, luz após luz apagada, as roupas se esvaíram e apenas o amor ficou. Não havia o frio tenebroso lá de fora, não havia a conta de energia atrasada, não havia mais a briga porque não mandou mensagem na estrada. Não havia o mau humor matutino - que era um saco aguentar, não havia a falta de atenção aos pequenos detalhes.


Talvez eles não soubessem ainda, mas, também haveria outras vezes. Aquele era um ciclo que se encerrava ali. Naquele hotel. Naquela noite. Talvez eles não soubessem do caos que causavam ali ou da bagunça que faziam um no outro. Entretanto, eles sabiam que aquele momento seria eternamente deles.






Anna Laura Tavares

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Mesmo que não seja para sempre

   
    Me permita te dar um conselho: pensa bem. Pense muito bem antes de tomar aquela decisão... antes de entrar na vida de outra pessoa.
    Por favor, não seja hipócrita ao ponto de pensar apenas nas suas consequências. Resista ao egoísmo.
    Você pretende mudar a rotina de alguem; bagunçar seus sentimentos (ou em alguns casos, colocá-los no lugar); roubar-lhe alguns pensamentos durante as 24 horas do dia; importunar-lhe os sonhos; tornar seu futuro uma incógnita.
    E ainda ousa não refletir sobre esse comselho que lhe dou, como boa amiga?!
    E, ah! Permita-me dizer mais?
Não tenha a audácia de se aproximar se não for com a verdadeira intenção de ficar. Ficar por um bom tempo. Tempo suficiente para fazer valer a pena as mudanças radicais, os questionamentos e medos. Ou, quem sabe, pelo resto da sua vida.
    Tudo bem... também sofrerá grandes mudanças,  eu sei. E talvez também tenha medo. É compreensível.
    Mas com isso, depois de decidido, sinto lhe dizer, mas é sua completa obrigação saber lidar.
    Porém, se decidir se aproximar, e se eu te permitir a entrada, saiba que é para ficar.
    Mesmo que não seja para sempre.
    Mas por ter decidido te receber, também espero que tenha decidido permanecer.
    É o mínimo que espero de alguém que esteja disposto a mudar minha vida, meus planos e meu futuro.

Geyse Ribeiro

sábado, 3 de setembro de 2016

Sussurro

⁠⁠⁠Hoje eu espero que você esteja perto. Bem perto da felicidade. Tão pertinho que um sussurro será suficiente para a comunicação entre o seu coração e ela.


Próximo ao ponto de seu coração sozinho caber todo o sentimento desencadeado. É clichê dizer, eu sei, entretanto, gritar ao mundo aquilo que se carrega do peito é muito perigoso.


Mas, felicidade dívida não é maior? É sim! Porém, divida-a entre seus sonhos, entre os seus dias e saiba, acima de tudo, selecionar com quem dividi-la.



Calma! Não é proibido contagiar alguém com um sorriso, um abraço cheio de orgulho, um beijo carregado de amor. Apenas digo para atentar-se aos lobos em pele de cordeiro.



Nem todos têm a mesma energia que você. Nem todos possuem o coração em paz o suficiente para emaná-la de bom grado. A felicidade é um sentimento que merece ser blindado, cabendo somente a si mesmo deixar-se revelar ou não.



Hoje, eu espero que você esteja perto. Bem perto da felicidade. A ponto do seu sussurro ser capaz de fazer o seu mundo inteiro ouvir, de espantar os lobos, de trazer sempre a mesma energia. A ponto de a única opção disponível seja ser feliz.




@annamoud

domingo, 31 de julho de 2016

Primeira Vez.


Lembrava-se com exatidão do seu primeiro dia de aula no ensino primário; as primeiras lições de balé; os primeiros e difíceis acordes que conseguiu executar no violão; o primeiro beijo; a primeira festa; a primeira viagem com os amigos; a primeira paixão, quando o coração ainda não era estava acostumado aos batimentos mais fortes; a primeira vez que em que escutara uma música da sua banda favorita; o primeiro dia de aula na faculdade; o primeiro show internacional que participou; o primeiro emprego.
E mesmo que, muitas vezes, ainda ouse questionar a razão pela qual sua vida é tão diferente do que desejaria – em alguns aspectos mais do que nos outros, óbvio -, tem a verdadeira noção de que possui mais primeiras alegrias do que primeiras tristezas.
E talvez esse seja um bom sinal: se tudo pela primeira vez costuma ser mais intenso, quer dizer que pode dizer orgulhosamente que sua vida será imensamente mais feliz. Já que, apesar de muitas sensações amargas que ela ainda terá que experimentar pela primeira vez, em seu coração ainda existem milhares de sonhos a serem realizados.
O primeiro salto de paraquedas, bang-jump e asa delta; a primeira viagem para fora do país; o primeiro emprego na área de sua atuação; a primeira grande aquisição material; a primeira mudança de vida – uma nova cidade? Uma casa em outro bairro? -; o primeiro amor; o primeiro e único casamento; a primeira viagem a dois; o primeiro filho.
Os primeiros passos, as primeiras palavras, os primeiros arranhões; o primeiro aniversário; a primeira viagem em família; o primeiro dia da escola; as primeiras apresentações de balé; a serenata tocada desajeitadamente no violão; os segredos divididos sobre o primeiro beijo; a chegada da primeira festa assim que o sol nasce; a primeira viagem com os amigos; a primeira paixão, regada a algumas lágrimas e sorrisos; a primeira vez que mostra a música da sua banda favorita; o primeiro dia de aula na faculdade; a empolgação do primeiro show internacional que participou; a conquista do primeiro emprego; o primeiro amor completamente e sinceramente correspondido; (...).
E a certeza de que mesmo que sua vida não tenha sido assim exatamente como imaginou, fora muito mais do que sempre sonhou!

Geyse Lorraime

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sem Querer.

Lucas tinha em mente que nunca mais se apaixonaria. Ele não queria.
Depois de sua última decepção amorosa chegou a tal conclusão, fora forte a dor que ela lhe causou e não estava disposto a sentir aquilo outra vez. Decidiu, então, tempos atrás, que não servia realmente para o amor. Ou talvez o amor não servisse para ele. Não tinha importância, no fim a conclusão era a mesma: não gostava de se envolver sentimentalmente com ninguém. Nada além de carnal era no se resumia suas relações. Não tinha intenção alguma de voltar a se entregar a ninguém, como fizera outrora. Diziam-lhe que voltaria acontecer, que ninguém vive sem amor, mas ele se achava a exceção à regra, é claro. Vangloriava-se até por não envolver emoções em seus encontros esporádicos.
Mas Lucas não sabia que, por mais que não quisesse, às vezes as coisas acontecem e sentimentos nascem sem querer.

Ele não queria ter mais de uma noite com ninguém. No entanto, Alice estava acordando ao seu lado e ele nem sabia mais quantificar que vez era aquela.
Ele não queria se envolver, mas sem querer, a encontrou, sem previsão, e então ela sorriu. Foi só isso que bastou.
Ele não queria tê-la, mas sem querer ela foi ficando, foi se instalando, foi dominando seus pensamentos, e de repente não apenas a tinha, ela lhe tinha também. Mutuamente.
Ele não queria dividir nada do que havia em si com ninguém, e sem querer, uma noite em um de seus inúmeros encontros ela disse numa voz suave e num sorriso acalentador: "Você pode me dizer qualquer coisa, eu estou aqui!". E ele falou.
Ele não queria fincar raiz em canto algum nem ancorar seu barco da vida em nenhum porto, mas sem querer Alice o acolheu e ele gostou de ficar. E foi ficando.

Ele não queria querer, mas sem querer quis, e quando se viu estava emaranhado nos braços quentes dela. Perdido em sua boca esperta. Afogado em seu corpo convidativo. Cego por seu sorriso. Encantado por seu olhar.
Ele não queria querer, mas sem querer, acabou querendo. Querendo que ela fosse sua e querendo ser dela. Sem querer se viu envolvido de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Sem querer seu coração batia em conjunto com o dela. Sem querer era tão dela e ela tão sua que não havia volta ou solução.

- O que está pensando? - a voz doce soou rouca, sinal de quem tinha acabado de acordar.
- Nada, menininha. Está frio, por que não volta a dormir?
- E você, porque não dorme também?
- Eu vou, Lili. - prometeu.
- Está com algum problema? Você sabe que pode me contar qualquer coisa.
- Eu sei disso, mas não estou com problema algum, eu prometo.
- Então o que te fez perder o sono? - insistiu. Porque era assim que ela era: teimosa, insistente, preocupada. Alice.
- Você.
- Eu? Por quê?
- Estava se mexendo demais, resmungando e roncando demais... - brincou e ela arregalou os bonitos olhos verdes.
- Jura? Me desculpa! - se exaltou.
- Estou brincando, maluquinha. Estava pensando numa coisa que eu nunca te disse, por medo e outras bobagens, mas acho que você precisa saber. - disse, alisando os cabelos soltos que emolduravam o rosto bonito dela.
- O que houve? É grave? - o olhou, preocupada demais.
- Gravíssimo, Alice. - suspirou Lucas, acariciando o braço nu da garota que lhe fazia perder o ar, a cabeça. Que fazia seu coração bater de maneira errática e louca.
- Fale de uma vez, Lucas. Sem medo. O que aconteceu?
- Aconteceu amor, Alice. Eu amo você. Isso tirou meu sono.
- Ah, que susto. Pensei que fosse uma doença terminal.
- Talvez seja.
- Não! - riu, batendo em seu peito nu. - Ninguém morre de amor.
- Ei, essa não era a hora de você falar que me ama também?
- Seria. Se eu sentisse isso... mas...
- Eu sei que me ama, Alice. - resmungou.
- Quem te iludiu? - inquiriu prepotente.
- Você fala dormindo, menininha.
- Ah não, você descobriu meu segredo. - ela o abraçou. - Se sabe por que está me cobrando?
- Quero ouvir você dizer. Posso?
- É, tem razão. Eu amo você também.
- Doida.

Ele riu, abraçando-a forte, como se abraçasse a vida inteira. Talvez ela fosse mesmo. Porque o que sentia por ela era intenso, imenso e indescritível. Algo do qual ele jamais pensou que experimentaria na vida.
Nem conseguia mais se imaginar sem ela e perguntou-se como um dia pudera não lhe querer. E agradeceu por tê-la, por ser ela, ainda que tenha sido sem querer.


Fernanda Aracelly

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Perdão

E de perdão em perdão, a gente aprende a ser mais leve. A se machucar na hora e encontrar rápido o bálsamo milagroso. Que em um momento ou outro, até mesmo quem mais amamos (talvez esses principalmente) vai nos magoar e cabe somente a cada um deixar ir, dizer verdadeiramente "Eu perdoo você ", afinal, não é possível mentir olhando nos olhos, é?



Nem de longe é algo fácil de se fazer. E também não é para tudo o que acontece que se encontra a cura em pouco tempo, mas, vai-se levando. A repetição leva à perfeição, não é o que dizem? De tanto treino, consegue-se perdoar com mais facilidade.


Todavia, dar perdão não significa que as coisas foram esquecidas. É clichê falar, eu sei, porém, perdoar é recordar-se do que fizeram e isso não ferir mais, não causar efeitos. E este ponto é o principal para convencer alguém de que os ressentimentos não valem a pena.


Atente-se à palavra: ressentimento. Res-sen-ti-men-to. É sentir de novo e tal fato deve lhe levar a perceber que não vale a pena guardá-lo porque você apenas gastará energia todos os dias para manter vivo um sentimento destruidor, que lhe fará perder um pedacinho do seu coração (e do seu equilíbrio) cada vez que vier à tona.


E o perdão não gasta? E como! Entretanto, entende que para ele você demanda esforço apenas uma vez? É mais compensador concentrar-se em um grande gasto por um momento do que se voltar para os pequenos dissabores para sempre. É mais compensador dar revanche para o amor.


Lembra-se do perdão lhe deixar leve? A leveza dá permissão para o amor entrar, visto que este é o princípio comum dos dois. Não há nada mais parecido com o amor do que o perdão, são as duas faces da mesma moeda, com a qual você compra o mundo.





@annamoud

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Encontrar você

Quero encontrar você. De verdade. Coração para coração. Desnudados de tudo o que a vida nos impõe, só nós dois mesmo, o nosso mundo, o nosso silêncio. O nosso.


Como é difícil encontrar você. Sinceramente, acho que o problema está nas expectativas que não correspondem com a realidade. Ah, mas, eu sei que se eu mudar o meu jeito de ver o mundo, logo você aparece.


Interessante é tentar encontrar você. Porque eu não sei o seu rosto, seu corpo, seu cheiro. Apenas conheço o seu coração: grande, feliz, o mais bonito que já vi. Conheço alguns dos seus defeitos, parecidos com os meus, porém, estou a fim de sair do conforto e descobrir mais.


Quão doloroso é encontrar quem não é você. Lembra-se da expectativa? Mais uma vez, ela entra em ação, só que agora é diferente. Eu acho que decifrei o código, que esse corpo é o seu e, de repente percebo que não, não é você. E tudo vai por água abaixo.


Espero encontrar você. Em algumas vezes, com mais paciência, em outras, nem tanto. Entretanto, nós dois tem os algo em comum que é maravilhoso: fé. Fé esta que nos mantém aguardando o momento certo de aparecer. E nós dois sabemos que ele chegará.





@annamoud

terça-feira, 19 de abril de 2016

Hipocrisia

Deixemos a hipocrisia de lado: a beleza importa sim. É o primeiro contato, o que está disponível independente de qualquer coisa. É aquele osso que forma a saboneteira, é aquela estria no pneuzinho. É aquela barriguinha de Chopp.
O belo é revelador. Ele lhe mostra quem está ali, olhando de soslaio com medo de ser pega porque a timidez é um charme, não porque o olho é preto, marrom, amarelo, azul ou verde. Ele lhe mostra aquele sorriso contido, não porque se é tímido ou a arcada é perfeita e os dentes brancos, mas, porque, fora isso, o desejo tem hora para ser demonstrado.
Quando o momento é bom e está feliz, o corpo acolhe o efeito e este fica guardado para que alguém com o olhar apurado e compatível consiga ver o quão estupenda é aquela beleza. A sua.
É clichê dizer, eu sei, a beleza de cada um está nos olhos de quem vê, porém, isso só acontece porque estes olhares são bastante semelhantes aos seus. Eles sabem chegar ao nível em que você está e lhe reconhece, como um filhote que reconhece a mãe pelo cheiro.
Pode-se dizer, então, que quem afirma ‘’beleza não é importante’’ está veementemente mentindo. Não é só o corpo, o físico, este é só um reflexo de tudo o que se tem por dentro de alegrias, tristezas, risadas, comportamentos, pensamentos, caráter, fé, respeito, amor.
A beleza importa sim. Para alguém parecido com você de diversas formas. E, acredite, a sua beleza é linda.










@annamoud

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Com amor, Camila.


Paulo acreditava que não poderia existir na face da Terra um sorriso que iluminasse mais do que o dela. Era instantâneo, ela sorria e o mundo inteiro se acendia, ficava mais feliz. Era arrebatador o efeito que o mais simples dos olhares dela lhe causava.

Chegara de surpresa na vida dele, a expressão “caiu de paraquedas no meu caminho”, nunca fizera tanto sentido para Paulo como quando ela caiu em sua frente numa tarde invernosa de quinta-feira, tempos atrás. Ela sorriu e o seu mundo mudou de cor, ficou mais intenso, mais feliz e mais puro, uma coisa que nem ele mesmo sabia que podia acontecer.
Era o tipo de garota que o fazia voar, ir longe. Que lhe deu brilho nos olhos, mais calor e o fez crer em finais felizes. O fez escalar a mais alta das montanhas, para chegar ao topo e encontrar plenitude. Fez o seu mundo se sacudir, virar de cabeça para baixo e dar loopings como as mais radicais montanhas russas.

E ele nunca fora tão feliz.

Estava ali, com os cabelos bagunçados e o rosto amassado, devido ao fato de que acabara de acordar. Ela já havia saído, mas era com um sorriso bobo que lia o singelo bilhete que ela lhe deixara, escrito com a letra bonita e bem desenhada. Como ele achava que era tudo nela.

E ela sempre o surpreendia. Afinal, quem em tempos de internet e mensagens instantâneas, ainda escrevia bilhetes, cartas? Mas ela? Ela era diferente e ele sabia da sorte que tinha por tê-la.

“Meu Paulo,

Eu não sei falar tudo muito bem, porque na realidade, falar não é meu forte. Mas acredite que a sensação é de que o sol não nasce se você não está comigo. Você tem os meus melhores sorrisos e cada batida do meu coração. Obrigada por nunca ter tentado destruir meus muros, porque você fez melhor, construiu pontes dentro de mim.
E sabendo disso, tenha um bom dia.
Mais tarde nos vemos.

Beijos, beijos,
Com amor, Camila."


Como se fosse possível ser mais feliz, ele soltou o bilhete e fechou os olhos, visualizando o sorriso que lhe fazia sorrir. Se ela soubesse que encontrou o caminho dentro do labirinto que ele era... Se ela soubesse que encontrou a saída da bagunça que ele fazia... Ela parecia não entender muito bem a imensidão de tudo isso, e mesmo assim, ainda estava lá, ainda fazia. Foi ela que encontrou naquele caminho de pedra as batidas que ele considerava que estavam perdidas. E como não dizê-la nada além de:

"Você tem meu coração.

Com mais amor, Paulo."




Fernanda Aracelly