domingo, 23 de outubro de 2016

Ajuda

Os olhos dela estampavam um pedido de ajuda, de maneira não tão casual assim, afinal, ela queria que ele a ajudasse a matar a saudade longo do tempo que ficaram sem se ver.

O painel do aeroporto acusava que o avião já havia pousado. Cada minuto agora seria crucial, não poderia desgrudar os olhos nenhum instante sequer porque facilmente o perderia de vista naquela sala de espera lotada. Cada vez que a porta automática se abria, o coração acelerava, a boca ficava seca e os pés se preparavam, como se fosse alçar voo.


Assim que terminou de colocar as luvas nas mãos (afinal, o inverno de Moscou era bastante intenso), as portas resolveram se abrir e por elas passava alguém de cabelos castanhos e cacheados, um sorriso que iluminava e agitava a madrugada silenciosa, os olhos que não hesitaram em olhar diretamente para ela, como se não houvesse nenhuma pessoa ao redor. Parecia que tudo estava em câmera lenta, cada passo rumo ao outro era dado com firmeza, como que para verificar se tudo aquilo era real.


E era. Quando os corpos carregados de roupas grossas apertaram-se um contra o outro, ninguém mais duvidou que aquilo era real. Era sincero. Era bonito. Ele tirou uma flor murcha do bolso, entregando a ela com uma cara de ''desculpe, foi o que deu pra fazer''. Mas, era a flor do deserto que ele prometera. Sorriram. Beijaram-se. Correram para o táxi e chegaram ao hotel.


Ele deixou as malas no closet, junto as dela. Retirou a touca de lã que cobria os cabelos cacheados e acobreados que batiam pouco acima do ombro. Retirou a flor da orelha direita. Beijou-lhe uma bochecha e passou o polegar na outra. De olhos fechados, ela retirou dos ouvidos o headphone roxo que ele adorava, tateou o rosto até conseguir retirar os óculos de hastes firmes e marrons.


Toque após toque, sorriso após sorriso, olhar após olhar, tropeço após tropeço até chegarem à cama, luz após luz apagada, as roupas se esvaíram e apenas o amor ficou. Não havia o frio tenebroso lá de fora, não havia a conta de energia atrasada, não havia mais a briga porque não mandou mensagem na estrada. Não havia o mau humor matutino - que era um saco aguentar, não havia a falta de atenção aos pequenos detalhes.


Talvez eles não soubessem ainda, mas, também haveria outras vezes. Aquele era um ciclo que se encerrava ali. Naquele hotel. Naquela noite. Talvez eles não soubessem do caos que causavam ali ou da bagunça que faziam um no outro. Entretanto, eles sabiam que aquele momento seria eternamente deles.






Anna Laura Tavares

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