quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Cruzadas

Com quantas pessoas você cruzou no dia de hoje? Consegue contar? E, dessas pessoas, em quantas você prestou atenção? Olhou nos olhos? Sorriu? Deu um bom dia (ou boa tarde, ou boa noite)? Apertou a mão, deu um abraço, um beijo, um aceno de cabeça que seja?




Talvez a gente só queira que os ponteiros do relógio passem para que possamos sair da escola, do trabalho, da barulheira lá fora e nos encafofar no aconchego do lar e nos aprofundar num ócio não produtivo de ficar à deriva no nosso conforto.



Nem sempre temos um belo dia e é ok nos excluirmos do meio de tanta gente e muvuca, afinal de contas, paz e sossego sempre caem bem. O perigoso nessa história é quando deixamos de dar significado às cruzadas com as quais nos deparamos.



Deixamos, pouco a pouco, o olhar se perder, o sorriso fechar, a mão ao lado do corpo (ou dentro do bolso ou segurando o celular), a cabeça com o olhar fixo para frente para que nada seja um empecilho ao longo dos passos, afinal, o tempo é mais depressa que as pernas e qualquer segundo perdido é precioso.



Uma pena que nosso caminhar seja cada vez tão mais solitário. É de dar pena ver cada adulto sem colorir o seu próprio dia ou o de alguém com um singelo mostrar de dentes que deveria se estender aos olhos (sorrir com os olhos é ainda mais bonito, acredite!). Entretanto, ainda há esperança. Ainda podemos colorir o mundo de novo.



Sorria mais. E o bastante para que seus olhos sorriam também. Afinal, os ponteiros são apressados, mas, o olhar é mais rápido – e melhor.




Anna Laura Tavares