domingo, 31 de julho de 2016

Primeira Vez.


Lembrava-se com exatidão do seu primeiro dia de aula no ensino primário; as primeiras lições de balé; os primeiros e difíceis acordes que conseguiu executar no violão; o primeiro beijo; a primeira festa; a primeira viagem com os amigos; a primeira paixão, quando o coração ainda não era estava acostumado aos batimentos mais fortes; a primeira vez que em que escutara uma música da sua banda favorita; o primeiro dia de aula na faculdade; o primeiro show internacional que participou; o primeiro emprego.
E mesmo que, muitas vezes, ainda ouse questionar a razão pela qual sua vida é tão diferente do que desejaria – em alguns aspectos mais do que nos outros, óbvio -, tem a verdadeira noção de que possui mais primeiras alegrias do que primeiras tristezas.
E talvez esse seja um bom sinal: se tudo pela primeira vez costuma ser mais intenso, quer dizer que pode dizer orgulhosamente que sua vida será imensamente mais feliz. Já que, apesar de muitas sensações amargas que ela ainda terá que experimentar pela primeira vez, em seu coração ainda existem milhares de sonhos a serem realizados.
O primeiro salto de paraquedas, bang-jump e asa delta; a primeira viagem para fora do país; o primeiro emprego na área de sua atuação; a primeira grande aquisição material; a primeira mudança de vida – uma nova cidade? Uma casa em outro bairro? -; o primeiro amor; o primeiro e único casamento; a primeira viagem a dois; o primeiro filho.
Os primeiros passos, as primeiras palavras, os primeiros arranhões; o primeiro aniversário; a primeira viagem em família; o primeiro dia da escola; as primeiras apresentações de balé; a serenata tocada desajeitadamente no violão; os segredos divididos sobre o primeiro beijo; a chegada da primeira festa assim que o sol nasce; a primeira viagem com os amigos; a primeira paixão, regada a algumas lágrimas e sorrisos; a primeira vez que mostra a música da sua banda favorita; o primeiro dia de aula na faculdade; a empolgação do primeiro show internacional que participou; a conquista do primeiro emprego; o primeiro amor completamente e sinceramente correspondido; (...).
E a certeza de que mesmo que sua vida não tenha sido assim exatamente como imaginou, fora muito mais do que sempre sonhou!

Geyse Lorraime

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sem Querer.

Lucas tinha em mente que nunca mais se apaixonaria. Ele não queria.
Depois de sua última decepção amorosa chegou a tal conclusão, fora forte a dor que ela lhe causou e não estava disposto a sentir aquilo outra vez. Decidiu, então, tempos atrás, que não servia realmente para o amor. Ou talvez o amor não servisse para ele. Não tinha importância, no fim a conclusão era a mesma: não gostava de se envolver sentimentalmente com ninguém. Nada além de carnal era no se resumia suas relações. Não tinha intenção alguma de voltar a se entregar a ninguém, como fizera outrora. Diziam-lhe que voltaria acontecer, que ninguém vive sem amor, mas ele se achava a exceção à regra, é claro. Vangloriava-se até por não envolver emoções em seus encontros esporádicos.
Mas Lucas não sabia que, por mais que não quisesse, às vezes as coisas acontecem e sentimentos nascem sem querer.

Ele não queria ter mais de uma noite com ninguém. No entanto, Alice estava acordando ao seu lado e ele nem sabia mais quantificar que vez era aquela.
Ele não queria se envolver, mas sem querer, a encontrou, sem previsão, e então ela sorriu. Foi só isso que bastou.
Ele não queria tê-la, mas sem querer ela foi ficando, foi se instalando, foi dominando seus pensamentos, e de repente não apenas a tinha, ela lhe tinha também. Mutuamente.
Ele não queria dividir nada do que havia em si com ninguém, e sem querer, uma noite em um de seus inúmeros encontros ela disse numa voz suave e num sorriso acalentador: "Você pode me dizer qualquer coisa, eu estou aqui!". E ele falou.
Ele não queria fincar raiz em canto algum nem ancorar seu barco da vida em nenhum porto, mas sem querer Alice o acolheu e ele gostou de ficar. E foi ficando.

Ele não queria querer, mas sem querer quis, e quando se viu estava emaranhado nos braços quentes dela. Perdido em sua boca esperta. Afogado em seu corpo convidativo. Cego por seu sorriso. Encantado por seu olhar.
Ele não queria querer, mas sem querer, acabou querendo. Querendo que ela fosse sua e querendo ser dela. Sem querer se viu envolvido de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Sem querer seu coração batia em conjunto com o dela. Sem querer era tão dela e ela tão sua que não havia volta ou solução.

- O que está pensando? - a voz doce soou rouca, sinal de quem tinha acabado de acordar.
- Nada, menininha. Está frio, por que não volta a dormir?
- E você, porque não dorme também?
- Eu vou, Lili. - prometeu.
- Está com algum problema? Você sabe que pode me contar qualquer coisa.
- Eu sei disso, mas não estou com problema algum, eu prometo.
- Então o que te fez perder o sono? - insistiu. Porque era assim que ela era: teimosa, insistente, preocupada. Alice.
- Você.
- Eu? Por quê?
- Estava se mexendo demais, resmungando e roncando demais... - brincou e ela arregalou os bonitos olhos verdes.
- Jura? Me desculpa! - se exaltou.
- Estou brincando, maluquinha. Estava pensando numa coisa que eu nunca te disse, por medo e outras bobagens, mas acho que você precisa saber. - disse, alisando os cabelos soltos que emolduravam o rosto bonito dela.
- O que houve? É grave? - o olhou, preocupada demais.
- Gravíssimo, Alice. - suspirou Lucas, acariciando o braço nu da garota que lhe fazia perder o ar, a cabeça. Que fazia seu coração bater de maneira errática e louca.
- Fale de uma vez, Lucas. Sem medo. O que aconteceu?
- Aconteceu amor, Alice. Eu amo você. Isso tirou meu sono.
- Ah, que susto. Pensei que fosse uma doença terminal.
- Talvez seja.
- Não! - riu, batendo em seu peito nu. - Ninguém morre de amor.
- Ei, essa não era a hora de você falar que me ama também?
- Seria. Se eu sentisse isso... mas...
- Eu sei que me ama, Alice. - resmungou.
- Quem te iludiu? - inquiriu prepotente.
- Você fala dormindo, menininha.
- Ah não, você descobriu meu segredo. - ela o abraçou. - Se sabe por que está me cobrando?
- Quero ouvir você dizer. Posso?
- É, tem razão. Eu amo você também.
- Doida.

Ele riu, abraçando-a forte, como se abraçasse a vida inteira. Talvez ela fosse mesmo. Porque o que sentia por ela era intenso, imenso e indescritível. Algo do qual ele jamais pensou que experimentaria na vida.
Nem conseguia mais se imaginar sem ela e perguntou-se como um dia pudera não lhe querer. E agradeceu por tê-la, por ser ela, ainda que tenha sido sem querer.


Fernanda Aracelly