Não que ela tivesse motivos para reclamar da vida que tinha!
Ela tinha uma família unida e acolhedora; seus amigos estavam ali sempre quando
necessário; classe média alta, sempre que podia ou queria algo, ela tinha; seus
pais nunca a privavam de sair e se divertir; já sabia, antes mesmo de terminar
o ensino médio, qual profissão iria seguir. Tinha muito, mas não tinha tudo.
Faltava algo.
Ela sempre fora tão tímida
que podia contar nos dedos de uma das mãos seus “romances”. Era sempre a “vela”
das amigas. O medo de se decepcionar também sempre havia sido como uma nuvem
negra que pairava sobre ela.
Mas agora ela se sentia cansada. Eram sempre as mesmas
coisas, as mesmas pessoas, os momos sentimentos. Queria algo novo. Algo
diferente e totalmente encantador. Queria até mesmo se decepcionar. Por que
não? Ser humano não cresce se não passa por isso, não é? Ela estava disposta. Ainda
que soubesse que estaria se jogando em um abismo.
Mas se antes de se jogar ela pudesse sentir a brisa fria
tocar seu rosto, ouvir as gaivotas atravessarem o céu em meio ao seu canto
exótico, sentir o cheiro de maresia, escutar a melodia por trás do choque das
ondas do mar contra a rocha, ela não sentiria medo. Sabia que de alguma forma,
tudo havia valido a pana.
E também haveria a possibilidade de sobreviver àquilo, não?
E então ela poderia ver através da água cristalina que debaixo àquela imensidão
azul também havia vida. E ela poderia começar de novo; sentir novos
sentimentos.
E talvez, agora, ela só pense que, no fim das contas, os
problemas, os pensamentos, algumas pessoas, haviam sido os únicos motivos pelo
quais ela ainda não havia ouvido as gaivotas, nem o barulho das ondas do mar e
nem sentido o cheiro de maresia com tanta intensidade.
Mais um passo, um único passo, e ela estaria pronta para
saltar.
Viver, aprender e ser. Simplesmente ser aquilo tudo o que
lhe for possível. Sem medo, com amor.
@Geysedmes