sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Chuva

A chuva fraca batia na janela em plena tarde de inverno. O dia amanheceu cinza e frio, preguiçoso com cara de domingo do jeito que ele gostava – ainda que fosse uma quarta-feira qualquer.


Através do vidro transparente emoldurado pela madeira branca, ele via o sorriso dela. Os cabelos cacheadinhos que caíam despretensiosamente sobre a cintura na medida em que o sorriso se alargava enquanto os pés rodopiavam sem música no meio do quintal. Ele sentia falta disso.
Saudade era uma coisa complicada. Ele mandou uma mensagem às 14:19 chamando-a para um café. Naquele café pequeno, desconhecido e aconchegante dos dois. Ela não respondeu.



Por volta das 20:37, colocou o casaco, a touca de lã, os óculos de grau com hastes pretas e saiu pela pequena cidade. Sentia falta dela ao seu lado para brincar de soprar no frio só para ver a fumacinha que saía da boca. Sentia falta do riso exagerado quando ele tropeçava na calçada. Sentia falta de colocá-la entre suas pernas e abraçar o corpo pequeno comparado ao dele, sentindo o cheiro de lavanda do cabelo.


A nostalgia acelerou o coração quando adentrou o café – sozinho. Era a primeira vez que enxergava o lugar com os olhos dele e não com os dela. Notou que a decoração vitoriana era bela, mas, não exatamente excepcional como antes. A menina que servia o cappuccino era linda, mas, não chegava aos pés dela. O frio era estarrecedor, mas, suportável sem o corpo dela.



Todavia, a maior percepção que ele tivera naquele instante era a de que ela havia ido embora. Talvez – e tomara que – para sempre. Ele sentia muita falta dela, bem verdade, e provavelmente estaria melhor assim. Porque assim, ele percebia que se ela partiu, é porque um dia chegou, e isso seria motivo suficiente para agradecer.




Anna Laura Tavares

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