quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Preparação

   De vez em quando  é bom desabafar com o papel. Ele é um bom ouvinte, reforça minnha fala e cumpre muito bem o seu cargo, só ouve, não diz uma frase se quer e entende cada palavra que lhe é colocada.
   A morena adorava quedar-se horas a fio sozinha, encarando o almaço cuidadosamente centrado na escrivaninha e ao lado das inúmeras canetas e artigos de papelaria. Era um prazer indescritível fazer aquele ritual.
   Não era sempre que os pensamentos fluíam facilmente e então era necessário pensar na vida. Pensava em tudo o que lhe acontecia, em tudo o que fazia, em tudo que amava, em todos que amava, em todos aqueles que iam e vinham na sua história e até mesmo naqueles que permaneciam.
   Então, ela reparava que, ainda que adorasse escrever e odiasse falar para se confortar, nada se comparava ao melhor abraço que não recebia há tempos. Os braços grandes e envolventes que a cercavam cuidadosa e delicadamente. Braços que abraçavam-na forte e fundo, para compreendê-la mais e melhor.
   Daí ela percebia o encadeamento e elo comportamental que se seguia e causava tanta falta agora. Primeiro era o abraço, depois o olhar malicioso e doce, meio bobo até, seguido do tapa na testa e o sorriso fácil. Depois se separavam e se ignoravam, como se não houvesse conhecimento um do outro.
   A saudade disso tudo era grande, ams o orgulho dela e o alto grau de safadeza da outra pessoa conseguiam ser maiores. Um magoava o outro, sem chance de revanche.
   Tudo bem, tudo bem. Ela sabe que é uma questão de tempo para que tudo comece novamente. Enquanto isso, ela já prepara o coração e continua a viver e a usar seus papeis para a vida




@annamoud

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Compatibilidade

   Os olhos que te encaram pedindo um beijo possuem a capacidade de despir tua malícia e encontrar toda a sensualidade envolvid nos jogos de azer e prazer e lançá-la sobre ti sem o menor pudor.
   Tu adoras quando ela olha. Tu gosta de todas as vezes em que ela te provoca e logo depois recua porque, ainda que ela goste desse mundo, insiste em deixar a timidez falar mais alto.
   Ela também gosta de olhar e provocar. É divertido, é perigoso, é malicioso, é envolvente, é sedutor, é gostoso, é comunicativo. E é uma comunicação não verbal, mas que ambos conseguem decodificar com facilidade.
   Parece tão bonito quando ambos se entregam à sedução, ainda que nenhum dos dois deixe aflorar um sentimento bonito e gostoso e maior que eles. No entanto, é de certo modo curioso como ambos não se importam com este detalhe.
   Cada um olha. Cada um tem vontade. Cada um tem desejo. O desejo é gande, mas talvez o coração de um esteja meio ansioso e com certa dose de medo. Talvez um coração possa estar desviado do foco, porém o segundo espera, pacientemente, ele sabe que tudo tem sua hora.
   Deste modo, o tempo vai passando. Ela sabe que no tempo certo ele acaba chegando ao destinho em que ela já está quase totalmente inserida e a compatibilidade sedutiva ocorrerá, deliciosamente saborosa. É tudo questão de seduzir e esperar.





@annamoud

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Reencontros.


A folha extremamente branca, vazia, brilhava diante dela; como em gritos silenciosos de que precisava ser preenchida. Por que, afinal de contas, ninguém vive se tem o coração vazio.
Suspirou vagarosamente, pensando sobre o que poderia escrever. Amizade. Amores. Família. Momentos. Mas nada parecia adequado, no entanto. Se ela escrevia para que pudesse se aliviar quando está quase transbordando, ou para se encher de algo quando se sente muito oca, nada parecia bom o suficiente para fazê-la se sentir melhor.
Colocou-se a mirar a janela á sua frente. O sol se punha, colorindo o céu de um alaranjado-amarelado vivido. Suspirou mais uma vez, percebendo que havia feito alguns rabiscos na folha, sem nem ao menos ter percebido.
Nunca soube desenhar muito bem. Seus traços eram sempre trêmulos e tortos, quase sem forma. Contudo, ela entendeu através daquele desenho desajeitado sobre o que ela realmente queria escrever.
Sobre saudade. Saudade era a única coisa que lhe transformava em um verdadeiro ser humano, naquele momento. Já que, de alguma forma, os outros sentimentos estavam bloqueados dentro de alguma parte dela.
Saudade da sua infância; a mais doce de suas fases. Saudade das pessoas; mesmo aquelas que por livre e espontânea vontade haviam se afastado. Saudades das amizades da sua adolescência; amigos esses que agora trilhavam caminhos diferentes, distantes dela. Saudades de quando possuía controle sobre si; entendendo o que sentia e sabendo exatamente como agir diante à tudo. Saudade, simplesmente saudade.
Quando deu por si, lá estava a página preenchida em uma letra torta e pequena. Sorriu, um tanto quanto aliviada. Levou os olhos à folha, relendo o que escrevera.
E nas entrelinhas, ela pôde ler sorrisos, lágrimas, amor, felicidade, mágoas, sonhos. Todos aqueles sentimentos que ela pensava não sentir mais. A saudade, de alguma forma, a havia guiado novamente de encontro a ela mesma.
Mirou o céu antes de dobrar a folha em quatro partes e depositá-las junto às outras folhas amareladas. A lua subia pelo céu quase imperceptível. Sorriu novamente, desejando que aquela pequena bola brilhante não demorasse a encontrar o seu lugar ao céu; Assim como ela havia reencontrado o seu.

@Geysedmes 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Interesses

   Aconteve que ser sua não é fácil, é necessário muito jogo de cintura para conseguir acompanhar seu rebolado. Mas, é até divertido essa mudança de ritmo que a sua banda estabelece.
   Sim, gosto de desafios, do complicado, do errado... Talvez seja esse o motivo de tanto apego, de tanto encontro, de tanta intensidade gostosa em tudo o que se faz. Somos errados e isso torna a situação mais interessante.
   Tudo pode e deve ser mais interessante, não é mesmo? Pois bem, está tudo certo então. Pelo menos quase todas as coisas estão corretas, no lugar em que deveriam estar.
   Quer saber o que está faltando? Neste exato momento, dois corpos deveriam estar bem próximos, mais perto que o normal, com dua peças principais em movimento rítmico, alternando da leve doçura do lamber das línguas à loucura pela busca do bem-estar.
   Entretanto, quero deixar de lado os sentimentos impostos pela Disney e seus malditos contos de fadas fajutas. É, além de gostar do seu ritmo, gosto de ser insensível também, dá um paladar a mais.
   Portanto, tendo em vista toda essa situação, gostaria de fazer-lhe uma proposta: vamos, da melhor e mais interessante maneira que houver, arrepiar a alma, redescobrindo o gosto e o sabor da festa da vida?







@annamoud

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Loucura.


Há muito tempo ela não sentia o dia tão frio; o céu nublado denunciava a chuva que logo viria, impiedosamente.
Mas ela não se importava. Na verdade, talvez sentir o frio até lhe ajudasse. Precisava manter sua atenção em outra coisa que não fosse a dor em seu coração. E seus pelos ouriçados pela baixa temperatura chegava a ser dolorido. E sentir algum tipo de dor verdadeiramente física era ideal.
Nem sequer percebeu que alguém havia sentado ao seu lado. Apenas se deu conta da presença masculina quando viu uma mão a segurar um lenço frente ao centro de seu campo de visão.
Virou-se um pouco e levou os olhos ao homem moreno de olhos extremamente azuis. Ele balançou a mão outra vez, mostrando o lenço e ela, sem vazão, pegou o pedaço de tecido extremamente branco, levando até os olhos e limpando as muitas lágrimas.

— Obrigada. — Ela sorriu de lado, devolvendo-o o lenço. Ele devolveu um meio sorriso, negando em seguida.
— Fique com ele.
— Não, não precisa. Obrigada!
— Não, eu insisto. Acho que, infelizmente, você precisa mais do que eu.
— Hm... De qualquer forma, obrigada, então.

O silêncio pairou sobre os dois.
Mas, no entanto, não parecia incômodo. Trazia alivio pra ela, de alguma forma. Era como se a presença dele ali significasse algum tipo estranho de sentimento bom.
Despertou de seus pensamentos, porém, quando sentiu pingos frios em seus braços. Chuva.

— Talvez pareça uma boa opção ficar aqui, mas pode pegar um resfriado, não acha?

Ela o olhou uma vez mais, tentando entender tudo aquilo.
Ele era um estranho. Mas se preocupava com ela como poucos.
Tão irônico.

— Conheço um lugar onde vendem o melhor café da cidade. É bem pertinho. Que tal irmos até lá, beber um bom café e conversar? Apenas conversar e relaxar. Nada de lágrimas. — Ele se levantou, estendendo uma das mãos pra ela. — Então, o que me diz?

Ela o olhou nos olhos, examinando-o por um segundo antes de tocar a mão dele com a sua, sentindo-o impulsioná-la a ficar de pé.
Ele sorriu, dando os primeiros passos e se afastando calmamente da pequena praça.
E mesmo que aquilo fosse loucura, na maioria das vezes, perdemos muitas oportunidades simplesmente por que não nos permitimos cometê-las. Loucuras que podem mudar a nossa vida no momento em que mais precisamos e menos esperamos.
Loucuras ou escolhas, não importavam o que fossem. O que é certo é que dependem unicamente de nós.  

@Geysedmes

Vida



            Não gosto de passar vontades, se acho que vale a pena colocar tudo em risco, não me controlo e logo passo a colocar ou inventar cores no desenho do quadro pendurado na parede... É assim, todos os dias vou lá e dou algumas pinceladas, o resumo do meu dia.
            É uma espécie de diário artístico. Não escrevo, não desenho, nada tem forma ou detalhe nítido, é tudo bem impressionista, cada um tira a conclusão que quiser dali.
            Vez por outra fico confusa e consigo mesclar a dor, tristeza e alegria tudo numa mesma pincelada de azul turquesa que começa bem firme e forte, como se de fato doesse fazer aquilo, e logo vai ganhando uma suavidade gostosa que mais parece um alívio.
            Daí então, eu percebo há quanto tempo dou essas pinceladas, dia após dia, mesmo que em minha fraca memória. E agora, passados alguns bons anos, deparo-me com a minha grandiosa obra.
            Em verdade, não está algo tão bonito, cheio de técnica e invenções, mas... Acho que o fato de ter sido feito com o coração valeu a pena. Todos os meus desejos ganharam cores, pinceladas aleatórias e por fim, deu no que deu.
            Cada dia que passei até hoje está registrado, cada lágrima, cada sorriso, cada amor, cada paixão, tudo o que fiz e me arrependi, tudo o que fiz e não me arrependi, tudo aquilo que joguei para o alto e voltou ou foi-se embora, cada um que passou por mim está aqui, absolutamente todo o meu subjetivo encontra-se neste quadro.
            Engraçado, não era para ter uma forma, um desenho definido como uma flor, um coração ou algo que geralmente os artistas pintam. No meu quadro, acabei, mesmo sem querer, pintando o formato da vida. 














 @annamoud

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Valer a pena

   Não, não sinto falta de você. Sinto falta de quem você era comigo. Queria o jeito calmo, tranquilo, o medo de me ver, a risada gostosa e aquele jeitinho de me deixar curiosa que me agrada mais uma vez.
   Quero voltar aos velhos tempos de janeiro sem fim e fazê-lo durar para todo o sempre, amém. Mas de fevereiro me trouxer tudo isso de volta, tiro um dia de cada mês do ano, até dois, quem sabe, e acrescento, só pra que seja conservado.
   Veja que nem tivemos somente mar de rosas na vida. Até gosto do crime a ser resolvido durante o filme. Não peço e nem quero somente o que é bom e agradável, peço e quero a conturbação também, a gente cresce, se ajeita e se apaixona pelos erros.
   Dê-me sua mão, vamos. Pé ante pé podemos ser e construir uma estrada com uma vista incrível, lembra? Um caminho que com o passar dos anos não cansa ninguém, pelo contrário, só nos faz bem, ainda que possua curvas acentuadas e perigosas a esquerda e direita.
   Ah! Droga. Esqueci-me de desligar o modo ''sonhos' da vida. Vou ter de voltar para a realidade e viver sem ter absolutamente nada disso aí. Porque nós demos certo antes de darmos errado, e isso já fez com que tudo valesse a pena.





@annamoud