sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Reencontros.


A folha extremamente branca, vazia, brilhava diante dela; como em gritos silenciosos de que precisava ser preenchida. Por que, afinal de contas, ninguém vive se tem o coração vazio.
Suspirou vagarosamente, pensando sobre o que poderia escrever. Amizade. Amores. Família. Momentos. Mas nada parecia adequado, no entanto. Se ela escrevia para que pudesse se aliviar quando está quase transbordando, ou para se encher de algo quando se sente muito oca, nada parecia bom o suficiente para fazê-la se sentir melhor.
Colocou-se a mirar a janela á sua frente. O sol se punha, colorindo o céu de um alaranjado-amarelado vivido. Suspirou mais uma vez, percebendo que havia feito alguns rabiscos na folha, sem nem ao menos ter percebido.
Nunca soube desenhar muito bem. Seus traços eram sempre trêmulos e tortos, quase sem forma. Contudo, ela entendeu através daquele desenho desajeitado sobre o que ela realmente queria escrever.
Sobre saudade. Saudade era a única coisa que lhe transformava em um verdadeiro ser humano, naquele momento. Já que, de alguma forma, os outros sentimentos estavam bloqueados dentro de alguma parte dela.
Saudade da sua infância; a mais doce de suas fases. Saudade das pessoas; mesmo aquelas que por livre e espontânea vontade haviam se afastado. Saudades das amizades da sua adolescência; amigos esses que agora trilhavam caminhos diferentes, distantes dela. Saudades de quando possuía controle sobre si; entendendo o que sentia e sabendo exatamente como agir diante à tudo. Saudade, simplesmente saudade.
Quando deu por si, lá estava a página preenchida em uma letra torta e pequena. Sorriu, um tanto quanto aliviada. Levou os olhos à folha, relendo o que escrevera.
E nas entrelinhas, ela pôde ler sorrisos, lágrimas, amor, felicidade, mágoas, sonhos. Todos aqueles sentimentos que ela pensava não sentir mais. A saudade, de alguma forma, a havia guiado novamente de encontro a ela mesma.
Mirou o céu antes de dobrar a folha em quatro partes e depositá-las junto às outras folhas amareladas. A lua subia pelo céu quase imperceptível. Sorriu novamente, desejando que aquela pequena bola brilhante não demorasse a encontrar o seu lugar ao céu; Assim como ela havia reencontrado o seu.

@Geysedmes 

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