Não
gosto de passar vontades, se acho que vale a pena colocar tudo em risco, não me
controlo e logo passo a colocar ou inventar cores no desenho do quadro
pendurado na parede... É assim, todos os dias vou lá e dou algumas pinceladas,
o resumo do meu dia.
É uma
espécie de diário artístico. Não escrevo, não desenho, nada tem forma ou
detalhe nítido, é tudo bem impressionista, cada um tira a conclusão que quiser
dali.
Vez por
outra fico confusa e consigo mesclar a dor, tristeza e alegria tudo numa mesma
pincelada de azul turquesa que começa bem firme e forte, como se de fato doesse
fazer aquilo, e logo vai ganhando uma suavidade gostosa que mais parece um
alívio.
Daí
então, eu percebo há quanto tempo dou essas pinceladas, dia após dia, mesmo que
em minha fraca memória. E agora, passados alguns bons anos, deparo-me com a
minha grandiosa obra.
Em verdade,
não está algo tão bonito, cheio de técnica e invenções, mas... Acho que o fato
de ter sido feito com o coração valeu a pena. Todos os meus desejos ganharam
cores, pinceladas aleatórias e por fim, deu no que deu.
Cada dia
que passei até hoje está registrado, cada lágrima, cada sorriso, cada amor,
cada paixão, tudo o que fiz e me arrependi, tudo o que fiz e não me arrependi,
tudo aquilo que joguei para o alto e voltou ou foi-se embora, cada um que passou
por mim está aqui, absolutamente todo o meu subjetivo encontra-se neste quadro.
Engraçado,
não era para ter uma forma, um desenho definido como uma flor, um coração ou
algo que geralmente os artistas pintam. No meu quadro, acabei, mesmo sem
querer, pintando o formato da vida.
@annamoud
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