terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Vida



            Não gosto de passar vontades, se acho que vale a pena colocar tudo em risco, não me controlo e logo passo a colocar ou inventar cores no desenho do quadro pendurado na parede... É assim, todos os dias vou lá e dou algumas pinceladas, o resumo do meu dia.
            É uma espécie de diário artístico. Não escrevo, não desenho, nada tem forma ou detalhe nítido, é tudo bem impressionista, cada um tira a conclusão que quiser dali.
            Vez por outra fico confusa e consigo mesclar a dor, tristeza e alegria tudo numa mesma pincelada de azul turquesa que começa bem firme e forte, como se de fato doesse fazer aquilo, e logo vai ganhando uma suavidade gostosa que mais parece um alívio.
            Daí então, eu percebo há quanto tempo dou essas pinceladas, dia após dia, mesmo que em minha fraca memória. E agora, passados alguns bons anos, deparo-me com a minha grandiosa obra.
            Em verdade, não está algo tão bonito, cheio de técnica e invenções, mas... Acho que o fato de ter sido feito com o coração valeu a pena. Todos os meus desejos ganharam cores, pinceladas aleatórias e por fim, deu no que deu.
            Cada dia que passei até hoje está registrado, cada lágrima, cada sorriso, cada amor, cada paixão, tudo o que fiz e me arrependi, tudo o que fiz e não me arrependi, tudo aquilo que joguei para o alto e voltou ou foi-se embora, cada um que passou por mim está aqui, absolutamente todo o meu subjetivo encontra-se neste quadro.
            Engraçado, não era para ter uma forma, um desenho definido como uma flor, um coração ou algo que geralmente os artistas pintam. No meu quadro, acabei, mesmo sem querer, pintando o formato da vida. 














 @annamoud

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