terça-feira, 8 de novembro de 2016

Amor é.

- Não sei o que ainda estamos fazendo juntos! – as palavras soaram cruéis no momento da raiva.

Se você for parar para pensar, no momento da raiva, é quando mais falamos sem pensar. E, nesses momentos, é quando mais magoamos a quem amamos. Porque uma coisa é certa: não dá para voltar atrás com palavras. E elas machucam quando ditas de maneira errada.

Joaquim respirou fundo, sentindo o golpe das palavras proferidas por Anna. Doía mais por ela ser sua amada. Doía ouvir aquilo dela.
Anna respirava com dificuldade. Estava sufocando lentamente. Não que sentisse o que disse a Joaquim, o problema era que naquela hora a raiva possuía seu corpo e pensamentos, e em momentos assim, a tendência é agir sem pensar.
Ambos se encaravam naquele instante. Ela o olhava sabendo que o havia magoado com suas palavras. E ele ainda a encarava, sem crer no que ela falara.

- Tá fazendo o que comigo ainda, então? Se nem sabe! Melhor separar de uma vez.
- Ah, Joaquim, eu não queria...
- Mas falou, Anna. – ele disse. – Estou te odiando nesse momento. Acho melhor não falarmos mais nada.

E, assim, ele saiu da sala. Deixando as palavras soltas, as pontas desamarradas, a briga sem desfecho e dois corações aos pedaços. Anna sentou-se no chão frio e tentou respirar, àquela altura, nem lembrava mais o motivo da briga, só conseguia lembrar o fato de que estavam magoando um ao outro. E amor não deveria ser assim, deveria? Amor não deveria magoar.
O problema é que amor não magoa. As pessoas sim. A culpa não é do sentimento pai de todos. A culpa é de quem sente.
Ela dissera que não sabia se deviam estar juntos.
Ele a odiava naquele momento.
Palavras duras. E que em nada condiziam com o que pregam sobre amor.

Mas amor vai além. Amor também é dificuldade, e saber enfrentar. Amor não é esquecer, é saber perdoar, ainda que magoe. Amor não é sempre um mar de rosas e ele se fortalece quando há tribulações e tempestades.

O silêncio era ensurdecedor. Joaquim em um canto. Anna em outro. Nenhuma palavra era dita. E era irônico que a falta delas também magoasse.

Bateu 23hrs. E o sono veio junto. Em sintonia, ambos foram para o quarto.
Ainda em silêncio. Sem se encarar.
Anna banhou-se. Joaquim escovou os dentes.
Silêncio.
Anna trocou de roupa. Joaquim lavou o rosto. Anna deitou-se. Joaquim entrou no quarto.
Silêncio.
Anna fechou os olhos. Joaquim deitou ao seu lado.
Palavras.

- Eu acho que não sei o que fazer sem você.
- Anna, por favor, não.
- Tudo bem! – ela sussurrou, e tentou arrastar-se para perto dele. – Entendo que esteja me odiando. Eu estou me odiando. Mas... Não vamos dormir brigados. Amanhã a gente continua brigados, mas agora só quero dormir apaixonada. E com o amor da minha vida.

Ela não ouviu uma resposta em palavras, mas sentiu o abraço logo em seguida e sentou-se aliviada. O abraçou de volta com mais força e relaxou.

- Eu não estou odiando você. – ele sussurrou.

Amor também é isso: ceder. É não deixar o orgulho falar mais alto. É amar, acima de tudo.


Fernanda Aracelly

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