Era um ótimo lugar para ficar sozinha
e pensar no rumo que sua vida tomava.
Era verdade que não podia reclamar das
oportunidades que tinha; e que as conseqüências – boas ou ruins – vinham a
partir de uma escolha. Mas era um tanto
quanto assustador quando ela se sentia daquela maneira, quase sem rumo.
Era como não ter um chão para pisar e
se sentir como se estivesse constantemente presa a um fio de esperança de que
tudo iria melhorar, sabendo que, no entanto, aquele fio poderia arrebentar.
Mas então, de repente, ela não estava
mais sozinha ali.
Uma senhora de cabelos curtos e
extremamente brancos como as nuvens, sentou-se ao seu lado, soltando um suspiro
logo em seguida.
— Essa fase da vida não é nada fácil,
não é, querida? — a mulher disse, então, trazendo a garota de volta ao mundo
real.
— É... — um suspiro. — É bem
complicado, sim.
— Mas não se preocupe. — a senhora lhe
sorriu sincera e meigamente. — Agora tudo parece sem foco, sem nexo, mas em
algum momento, tudo vai se tornar claro.
— E quando será isso? Por que agora
essa clareza parece estar um tanto distante, não acha?
— E está. Ela realmente está. – o
sorriso não era apagado da face cheia de marcas do tempo, ainda que nos olhos
dela pairasse uma sombra cinza. Talvez lembranças. – Você vai se sentir perdida
por muito tempo, em vários momentos; as dificuldades, as provações são parte da
caminhada para que possa se encontrar. Por que, quando você encontrar a si
mesma, tudo estará completo, tudo terá se encaixado perfeitamente.
— Então quer dizer que, com certeza,
eu ainda tenho muito o que sofrer, não é?
— Sim, e sinta-se feliz por isso.
— É um tanto quanto complicado me
sentir feliz por isso. — a menina riu sem humor.
— Querida, sinta-se orgulhosa dos seus
sofrimentos. Por que as feridas, as cicatrizes que você levará contigo pelo
resto dos seus dias será aquilo que definirá o que você é. Será aquilo que
provará o quanto você é merecedora dos seus momentos de felicidade e, principalmente,
do momento em que encontrará com você mesma.
— E... – a menina pensou um pouco. – A
senhora já se encontrou?
— Não. – ela sorriu. – Dizem que isso
acontece no ultimo segundo da nossa vida. Mas eu acredito que valerá a pena.
Aliás... – ela sorriu ainda mais, e agora seus olhos ganharam um brilho
incomum. – Já vale à pena, por que eu estou aqui, eu sobrevivi às tempestades e
pude ver muitas vezes o sol nascer. – a menina abaixou a mirada, refletindo
sobre o que ouvia. — Por isso eu digo que, com certeza, eu espero pelo momento
que me encontrarei comigo mesma feliz e ansiosa. Por que não tenho duvidas de
que as lutas foram em vão e nem mesmo desisti de nenhuma delas antes de tentar.
– a senhora mirou a garota por um longo tempo. – Por isso, querida, mesmo em
meio às dificuldades, não se deixe transbordar em duvidas em um momento que
você precisará estar cheias de certezas. Faça tudo valer à pena. E principalmente
faça de tudo para ser feliz, ultrapasse limites e obstáculos para que, ao se
encontrar consigo mesma, possa sentir orgulho; sentir que valeu a pena.
E então, diante ao silêncio meditativo
da menina e sem mais nada a ser acrescentado, a senhora se levantou, sem pressa
e se foi. Esperando que, de tudo seu coração, aquela garota se sentisse tão
orgulhosa de si, ao final da sua vida, quanto ela se sentia dela mesma.
Afinal, com certeza, tudo,
absolutamente tudo, havia valido a pena.
@geysedmes
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