quinta-feira, 19 de maio de 2011

Paris pra nunca mais

   Com as mãos grandes e largas envolvendo-me pela cintura, com tal porte como se fora eu um enorme troféu mundial, ele sorria para tudo ao nosso redor.
   Era imensurável a forma e a intensidade que eu o amava. E eu sentia que o sentimento era recíproco. Contudo, havia algo errado ali: por que todas as vezes que eu o via, sentia uma enorme vontade de construir um oceano em lágrimas?
   Não demoraria muito para que eu descobrisse a resposta para minha angústia. Era somente mais uma tarde de inverno rigoroso em Paris. Eu, ele, Paris em seu lindo inverno com sua perfeita neve. Estava tudo absolutamente perfeito.
   Ao menos eu pensava estar. Ao levar de encontro meu corpo ao de meu amado com um abraço forte e apertado em meio à rua, algo de estranho alojara-se entre nós. Não havia a mesma intensidade de um abraço normal, ninguém pronunciou um habitual e verdadeiro "Eu te amo".
   Meu medo veio com tudo. Receio em perguntar para ele o que houve. Todavia tínhamos uma conexão tão incrível e inacreditável que, após olhar-me demoradamente com seus olhos azul-claros, responde-me com um beijo, a minha pergunta não pronunciada.
   Nosso trato. Se alguém ali não voltasse para casa após a viagem, seria um beijo a notícia, somente o beijo e nada mais, nenhuma palavrinha se quer seria falada.
   Agora eu sabia o por quê de minhas lágrimas teimarem em cair. Saudade antecipada traduzia tudo perfeitamente. Dor. Tristeza. Amargura. Amor.
   Fito-o ao longo do tempo. Passaríamos a noite juntos, ou melhor, a nossa última noite juntos.
   Começamos então a vagar pelas ruas desertas da cidad, abraçados, beijando-nos a toda e qualquer oportunidade. Ah, como eu sentiria falta disso... Dele... De... Nós.
   Entramos em uma pequena pensão, nomeada "L'amour", bem clichê para a cidade. Passamos pela portaria, pagamos nossa estadia de apenas umas horas e subimos. Eu estava derretida nos braços dele, naquela cena e naquele momento memoráveis.
   Terminamos de subir para o quarto 23. Adentramos-no  naquele aconchegante cantinho, com uma televisão e dvd. Pegamos um filme aleatório e colocamos para rodar, sentamos na cama. Ele começou a beijar-me o pescoço  e correspondo intensamente ao beijo chegado devagar aos lábios. O filme rodava e ninguém o via.
   Ele então prende-me verozmente contra seu corpo através de minha cintura. Apesar da baixíssima temperatura lá fora, nossos corpos faziam a temperatura do lugar ficar mais agradável.
   De repente paro. Eu não estava pronta para aquilo. Ele pergunta-me o que acontecera e, assustada, com expressão de espanto, explico-lhe meu ponto de vista. Ele entende, porém não solta-me como das outras vezes que eu lhe disse o mesmo "não!".
   Vamos aos poucos prestando atenção no filme, um româtico e clássico. Dessa vez eu não consegui manter meu "não" levando em conta a situação em que me encontrava: a última noite com ele. Desligo a televisão e vou beijando-o, do pescoço à boca, enquanto ele tira a camisa.
   Continuamos passo a passo, devagar, sem pressa, com carinho, romantismo... A cada passo, ambos ficavam mais pertos do mais puro e louco delírio. E celamos ali o nosso último encontro, em nosso último adeus.
  

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