As pontas dos pés doíam, contudo, o prazer de calçar as sapatilhas de ponta jamais foram tão imenso e convidativo. Talvez a bailarina sofresse um pouco com a dança, mas sua paixão por ela era maior. Ela havia se apaixonado por seu ofício.
Cada passo, cada andar, cada gesto, cada sorriso, tudo escondia a enorme agonia de possuir os extremos inferiores envoltos em uma sapatilha delicada de cetim e gesso. A leveza de tal objeto parece fundir-se com o ser que o possui a tal ponto de dar a impressão de voo.
Um voo perigoso esse alçado pelos bailarinos. um feito que remete o público à um jogo de olhares intensos, atentos e cobiçadoresque almejam movimentos precisos que somente quem sente a dança sabe como é delicioso.
Reparem na não utilização da palavra "dançarino" nno contexto. Ora, não se passa oito anos lutando, sofrendo e vencendo numa academia para ser chamado de meros dançarinos. Dançarinos todos são, bailarinos não pertencem à esta classe.
Dançar não é fácil, assim como viver também não é. É preciso enorme e verdadeiro vernáculo para bailar. Por função, o bailarino tem a obrigação de transparecer a "facilidade" de seus movimentos, mesmo que não o seja assim.
É fácil apaixonar-se pela dança, mas a reciprocidade do sentimento não é tão comum. Os movimentos longilíneos escolhem a dedo por quem apaixonar-se-ão. Entretanto, bailar não está na alma, está no coração.
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