terça-feira, 3 de julho de 2012

Missing

          
      Todos os dias ela sentia saudade. De vez em quando não sabia ao certo a causa desse sentimento, entretanto, em maioria, era a dança. Ah! Como a dança lhe fazia falta.
   O corpo magr e cansado da luta diária pela sobrevivência, os joelhos que já não eram mais os mesmos, a expressão da face, o cérebro e principalmente o coração pediam alguns míseros passinhos, nem que por cinco minutos, mas que fossem suficientes para adicionar amor.
   Amor pelo toque da pele com a meia cor-de-roa e as dolorosas sapatilhas de ponta douradas que absorviam os pés com desconforto, insegurança e prazer. Amor pelos aplausos merecidos ao final de um belo espetáculo em que gotas de suor foram sacrificadas em prol do sorriso nas arcadas dentárias do público leigo.
   Digo leigo na técnica e não no amor, afinal, os olhos de quem verdadeiramente admira a dança, ama com ou sem perfeição Mas nada melhor que, numa noite em especial, as coxias se abrirem e darem espaço para os mais belos bailes, de  qualquer parte do mundo, bem ali, diante dos olhos bobos que acompanham passo a passo, pedindo sempre um pouco mais.
   Um desespero, a ansiedade que precede o espetáculo, segundos antes da taquicardia ao ouvir os pequenos que estrearem a apresentação dizerem ''A casa está cheia''. Sinceramente, nunca achei frase mais clichê e mais significante. Ela também via o significado da frase, não o de sucesso, mas o de admiração, respeito e que o esforçr tem valido a pena.
   ''Merda'', ela preguejava a toda oportunidade que aparecia. O seu esforço fora em vão. As lágrimas derramadas por dor, por alegria, por alívio, por paixão, todas elas não serviram para nada, uma vez que agora o mundo ''balético'' onde ela vivia havia desabado. Só restava mesmo a marga saudade.
   Um gosto que ela não recomendaria nem para o pior inimigo. O miocárdio fraco batia somente por necessidade, não gostava mais da função que lhe era atribuída (pulsar para dançar) e o chorinho idêntico ao de um bebê recém-nascido que queria colo.
   Ela queria colo. Ela precisava de colo. Mas não um colo qualquer, ela carecia de ser envolvida pela música, pela dança, pelo amor.



































@annamoud

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