segunda-feira, 11 de abril de 2011

Traída


Com o tempo, passei a perceber que aqueles olhares bobos trocados com tanta ternura já não me satisfaziam mais. Eles começaram a ficar... Inúteis para mim.
            Mas apesar de inúteis e sem valores, eu sentia tanta falta deles. Eu sentia desconforto ao não possuí-los. Eu sentia que eles me eram extremamente vitais.
            Aqueles olhos eram simples, pequenos, escuros. Porém havia uma magia fascinante quando estes me olhavam. Era algo magnético, totalmente automático, ele mirava-me, eu mirava-o.
            De repente, sem ninguém esperar, eu via os braços dele ao redor de mim, como que para proteger-me. Contudo não eram somente para proteção, era para destruir algo que nos destruía: a saudade.
            Entretanto não parava ali. Logo em seguida, eu sentia os lábios dele em pescoço, fazendo sentir arrepios gostosos pelo corpo. Aí sim parava tudo. Foi a partir daí que eu comecei a sentir saudade.
            E ela só aumentava, aumentava, até que eu não conseguia mais viver só de recordações. Eu ansiava por que aquela lembrança se tornasse realidade. E quanto mais eu desejava, por mais que eu desejasse tudo isso, mais distante ela ficava.
            A rotina voltou ao normal. Pensar nisso tornou-se normal. O cotidiano começou a ficar chato e os sentimentos eram sempre os mesmos.
            Depois, eu fui destruindo, desligando-me ao máximo possível dele. O corpo já não tremia mais, as pernas não bambeavam, as mãos deixaram de suar, o coração... o coração...
            Fiquei orgulhosa de mim. Desprender-me dele não era fácil. Só encontrei uma, somente uma decepção ao longo dessa estrada: meu coração ainda acelerava ao vê-lo, mesmo que de longe, mesmo que só por ver mesmo.
            Com isso, o resto voltou a acontecer, e eu não consegui sair disso. Fui traída por meu próprio coração.

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